Um estudo publicado na revista Scientific Reports coordenado pela acadêmica da ABC Iscia Lopes-Cendes, chefe do Laboratório de Genética Molecular da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, sugere que adaptações evolutivas ocorridas no passado podem ter deixado a população de Campinas e de outras localidades do interior do Estado de São Paulo com maior propensão genética a acumular açúcares e gorduras no organismo e, consequentemente, predisposta a desenvolver doenças como obesidade e diabetes. A pesquisa foi desenvolvida por pesquisadores do Instituto Brasileiro de Neurociência e Neurotecnologia (Brainn), na Unicamp. O artigo foi publicado na edição de setembro de 2019 da Scientific Reports e a Agência Fapesp destacou a notícia ontem (04/02/2020) em seus veículos online.
“Mapeamos cerca de 900 mil marcadores genéticos distribuídos nos genomas de 264 pessoas da região de Campinas. Foi o primeiro estudo feito com esse nível de resolução no Brasil. A maioria dos estudos de ancestralidade feitos na população Brasileira utilizava não mais de 40 marcadores”, disse Lopes-Cendes à Agência Fapesp.
Os pesquisadores investigaram todas as regiões do genoma para saber a origem – se europeia, africana, indígena ou outras – de cada marcador. Os genomas mapeados apresentaram forte predomínio de marcadores de origem europeia, na faixa dos 80%, ficando os 20% restantes distribuídos, quase que meio a meio, entre as ancestralidades africana e indígena. Porém, o que intrigou especialmente os pesquisadores e motivou o artigo publicado em Scientific Reports foi que os 10% de ancestralidade indígena forneceram o elemento mais relevante do ponto de vista de saúde pública: o gene PPP1R3B, associado à capacidade do organismo de acumular glicídios e lipídios, e, por isso, predisponente ao desenvolvimento de obesidade e síndromes metabólicas correlatas, como diabetes tipo 2.
Em uma época em que a comida era escassa, o gene PPP1R3B, relacionado com o acúmulo de glicídios e lipídios, daria uma vantagem evolutiva aos seus portadores, possibilitando que vivessem por mais tempo, se reproduzissem mais, e transmitissem essa característica à descendência. Mas o que foi uma vantagem no passado se transformou em problema no presente, em um contexto de alta ingestão calórica e sedentarismo, agravados por hábitos como tabagismo e consumo exagerado de álcool.
“Se eu fosse gestora do sistema de saúde pública da região, daria uma grande ênfase aos programas de prevenção de obesidade e diabetes, com equipes específicas para promover mudanças de hábitos alimentares, estimular a prática de exercícios físicos e alertar sobre os perigos do tabagismo e da ingestão de álcool”, disse Lopes-Cendes.
Leia a reportagem completa no site da Agência Fapesp.
Com informações de José Tadeu Arantes, da Agência Fapesp