A pesquisa foi realizada por cientistas do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e do Institut Pasteur de São Paulo (IPSP)
Lívia Ximenes
A síndrome congênita do zika vírus (SCZ) e o Transtorno do Espectro Autista (TEA) podem estar relacionados, conforme pesquisa realizada por cientistas do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e do Institut Pasteur de São Paulo (IPSP) . O estudo, intitulado “Infecção por zika vírus prejudica a sinaptogênese, induz neuroinflamação e pode ser um fator ambiental de risco para o Transtorno do Espectro Autista” (” Zika virus infection impairs synaptogenesis, induces neuroinflammation, and could be an environmental risk factor for autism spectrum disorder outcome ”, no original), contou com 19 autores
A pesquisa foi realizada com organoides cerebrais criados em laboratório e camundongos , ambos infectados pelo vírus. Além disso, 136 crianças nascidas com SCZ também foram analisadas. No estudo, os camundongos manifestaram comportamentos chamados “ autistic-like ”, ou seja, modos como de autistas.
Segundo Patrícia Cristina Baleeiro Beltrão-Braga , uma das cientistas envolvidas, uma série de alterações foram observadas: redução de sinapses crescimento de morte celular neuroinflamção e alteração na captação de glutamato (GLU) — aminoácido presente em abundância no sistema nervoso central (SNC) que age como neurotransmissor excitatório e é auxiliar no desenvolvimento neural. “Notamos que a inflamação observada nas células do sistema nervoso parecia ser suficientemente compatível para causar alterações no comportamento de uma criança”, declarou.
A infecção pelo zika vírus durante a gravidez pode ser um fator de risco importante para o desenvolvimento do autismo, conforme a pesquisa. Entre as 136 crianças com SCZ, sete receberam o diagnóstico de TEA. Anteriormente, a doença provocada pelo vírus também foi associada ao aumento no número de crianças nascidas com microcefalia.
Patrícia explicou que a origem do problema está nas células neuronais que servem como suporte ao funcionamento dos neurônios, chamadas de astrócitos . “É o astrócito que dá sustentação, nutrição ao neurônio. Ele também elimina substâncias tóxicas no cérebro. Como o astrócito infectado funciona mal, ele não dá todo o suporte possível para a sobrevivência do neurônio. Além de funcionar mal, ele parece estar produzindo citocinas inflamatórias, o que piora o funcionamento do sistema nervoso”, falou.
A provável relação entre a síndrome congênita do zika vírus e o Transtorno do Espectro Autista está no reflexo do astrócito alterado pela infecção viral . Os pesquisadores acreditam que a presença do vírus durante o período embrionário pode provocar uma reprogramação epigenética, ou seja, modificações no código genético (genoma).
O TEA pode ser provocado por dois tipos de fatores: genéticos e ambientais. Conforme o artigo “Uma revisão abrangente dos fatores genéticos e ambientais no desenvolvimento de transtornos do Espectro Autista“, escrito por estudantes de medicina de instituições de Minas Gerais, os fatores genéticos são relacionados às ocorrências do autismo na família. Já os fatores ambientais são ligados à exposição a determinados agentes durante a gestação, como exposição a substâncias químicas, toxinas e infecções
A pesquisa que relaciona o Transtorno do Espectro Autista à infecção pelo zika vírus foi publicada na revista “ Biochimica et Biophysuica Acta (BBA) — Molecular Basis of Disease ”. Para acessar o estudo completo em inglês, acesse aqui
(*Lívia Ximenes, estagiária sob supervisão de Vanessa Pinheiro, editora web de OLiberal.com)