Após três anos de estudos em animais, foi desvendado por pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP um dos mecanismos moleculares envolvidos na atrofia muscular de animais diabéticos. Esses resultados abrem perspectivas para o desenvolvimento de novos tratamentos para inibir a perda de massa muscular observada nos portadores desta doença.
No mês passado, o estudo recebeu o prêmio de melhor trabalho apresentado no RNA interference and micro-RNA Europe Conference 2010, que aconteceu em Dublin, Irlanda. "Conseguimos demonstrar pela primeira vez a participação de um micro-RNA na atrofia muscular induzida pelo diabetes. Nos experimentos realizados em ratos, observamos o aumento da expressão do micro-RNA let-7b nos músculos esqueléticos de animais diabéticos", explica a pós-graduanda Thaís Amaral e Sousa, autora da pesquisa que teve orientação do professor Fernando Luiz De Lucca, do Departamento de Bioquímica e Imunologia da FMRP.
Já foi demonstrado, há várias décadas, que os RNAs são moléculas responsáveis pela intermediação entre o DNA e a síntese de proteínas. Entretanto, o micro-RNA foi descoberto recentemente e a investigação sobre este tipo de RNA nos últimos anos já é considerada uma das áreas mais promissoras da pesquisa biomédica. "Os micro-RNAs são pequenos RNAs que desempenham um papel fundamental na regulação da expressão gênica", dizem os pesquisadores.
Eles afirmam que estudos recentes revelaram que os micro-RNAs regulam a expressão de cerca de 30% dos genes codificadores de proteínas do genoma humano. Tem sido demonstrado que a expressão alterada de vários micro-RNAs está associada a diversas patologias humanas como câncer e doenças cardiovasculares. Entretanto, segundo o professor De Lucca, "apesar de os micro-RNAs constituírem a maior classe de reguladores da expressão gênica, a participação deles no desenvolvimento da atrofia muscular em animais diabéticos ainda não havia sido investigada."
Nos mamíferos, em condições fisiológicas, ocorre um balanço entre a síntese e a degradação de proteínas, carboidratos e lipídeos. Nos pacientes diabéticos, com glicemia não controlada, ocorre um desequilíbrio metabólico que determina a degradação das proteínas no tecido muscular para a obtenção de energia, o que contribui para o desenvolvimento da atrofia muscular.
Na pesquisa premiada, os autores induziram o diabetes em ratos jovens e avaliaram a expressão de vários micro-RNAs em diferentes tempos após essa indução. Segundo os pesquisadores, "Depois de observar uma expressão aumentada do micro-RNA let-7b foram realizados experimentos no intuito de identificar e validar os genes que seriam regulados por este micro-RNA".
Esses experimentos foram feitos em colaboração com o laboratório da professora Isis do Carmo Kettelhut, também da FMRP, com a utilização de uma moderna tecnologia no campo dos micro-RNAs e, ainda, parte do trabalho foi realizada no laboratório da professora Rama Natarajan, do Beckman Research Institute, City of Hope, Califórnia, Estados Unidos.
Os resultados desta pesquisa, intitulada Micro-RNA let-7b regula a expressão da proteína Akt1: possíveis implicações na atrofia muscular em ratos diabéticos, fazem parte da tese de doutorado de Thaís, que está sendo financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
Segundo Thaís, os resultados, ainda que na fase de pesquisa básica, abrem perspectivas para, numa próxima etapa, demonstrar o papel crítico do micro-RNA let-7b no desenvolvimento da atrofia muscular também em pacientes diabéticos e isso poderá levar ao desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas para a perda de massa muscular. "O uso, por exemplo, de um inibidor deste micro-RNA, um anti-micro-RNA let-7b, poderia ser uma terapia alternativa para minimizar a perda da massa muscular em pessoas com diabetes." Entretanto, ela alerta que estudos posteriores serão necessários antes do uso clínico do anti-micro RNA let-7b.
Mais informações: (16) 3602-3260, e-mail fldlucca@fmrp.usp.br, com o professor Fernando De Lucca, ou com Thaís, e-mail thais.biologia@gmail.com
(Envolverde/Agência USP de Notícias)