A estudante Fernanda Bacaro, do 2º ano do curso de Engenharia Ambiental do Instituto de Biociências (IB), Câmpus de Rio Claro, e que realiza sua iniciação científica naquela unidade, foi duplamente premiada em dezembro no IV Congresso da Sociedade Brasileira de Espectrometria de Massas, com os títulos de Melhor Pôster da Sessão de Produtos Naturais e Sintéticos e Melhor Pôster do Congresso. Ela realizou um trabalho em que apresenta um método mais preciso para identificar duas cianotoxinas na água: microcistinas e nodularinas.
Essas substâncias fatais para organismo humano são produzidas pelas cianobactérias - microrganismos que, quando concentrados, se assemelham a uma fina camada de musgo que cobre a água e são, muitas vezes, confundidos com algas. Essa cobertura verde está diretamente associada à poluição por esgoto doméstico, que contém grandes quantidades de dejetos humanos e detergentes. Sua produção é ainda maior nos períodos mais quentes do ano.
O Estado do Pernambuco viveu em 1996 um desastre de grandes proporções pela contaminação de microcistinas e nodularinas, com a morte de 69 pessoas. Na ocasião, um caminhão pipa abasteceu uma central de hemodiálise da cidade de Caruaru com água contaminada por essas toxinas porque havia sido apenas parcialmente tratada.
Por segurança, as etapas pelas quais a água deve passar antes de abastecer a população incluem um tratamento específico para retirar essas toxinas, uma medida cara e que nem sempre é necessária. O estudo de Fernanda traz um método que permite que seja feita a detecção até mesmo da menor concentração dessas substâncias. Com isso, só passariam pela despoluição por microcistinas e nodularinas águas cujas amostras realmente indiquem vestígios dos poluentes, o que tornaria o tratamento da água mais rápido e barato.
O projeto de iniciação científica, intitulado Hepatotoxic Cyclic Peptides Analysis by TLC-MALDI-TOF-MS, foi orientado pelo químico e professor do IB Humberto Márcio Santos Milagre. A ação tem a colaboração da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), que fornece material para análise e deve ter seus trabalhos beneficiados pela utilização da técnica de detecção. O estudo faz parte de uma rede de pesquisas sobre análise de poluentes que tem o apoio da Fapesp (Fundação e Apoio à Pesquisa do Estado de são Paulo), do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e da Pró-Reitoria de Pesquisa da Unesp.
Represa Billings
O estudo analisou amostras de água da Represa Billings, em São Paulo, recolhidas pela Cetesb nos períodos de outubro de 2009 a março de 2010 e outubro de 2010 a março de 2011. Essas águas foram, então, pré-analisadas pela Companhia, que depois as enviou para o laboratório na Unesp. "Embora haja cianobactérias na represa, elas não chegaram a produzir floração tóxica, e as substâncias não foram detectadas nessas amostras", afirma o professor.
Como as microcistinas e nodularinas não estavam contidas na água entregue pela Cetesb, o método de análise foi desenvolvido utilizando cianobactérias obtidas junto ao Instituto Pasteur e cultivadas em biorreatores no próprio laboratório em Rio Claro. O trabalho de Fernanda consistiu em adaptar a técnica TCL-MALDI-TOF-MS para fazer essas análises. "É um método de investigação química relativamente simples e novo. Ainda há poucos artigos publicados sobre ele", explica o professor, que informa que os estudos com essa abordagem têm crescido no Brasil e no Exterior.
"Em testes comuns, há outros poluentes que podem induzir a um resultado falso positivo para essas toxinas", explica Milagre. "O diferencial desse método é que ele é mais confiável e aperfeiçoa todo o processo de monitoramento de reservatórios de água."