Saúva-limão realiza limpeza de fungo cultivado pela espécie (foto: Quimi Vidaurre Montoya/IB-Unesp)Saúva-limão realiza limpeza de fungo cultivado pela espécie (foto: Quimi Vidaurre Montoya/IB-Unesp)
Estudo Revela Memória Imune Social em Formigas Saúva-Limão
Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) descobriram que as formigas saúva-limão (Atta sexdens) demonstram comportamentos que vão além da imunidade social, revelando a capacidade de reconhecer e reagir a patógenos com os quais já tiveram contato. Este fenômeno, chamado de “memória imune social”, permite que essas formigas implementem estratégias de defesa mais eficazes para proteger a colônia.
Em um artigo publicado na revista Proceedings of the Royal Society B , os cientistas relatam que as formigas podem identificar um fungo patogênico até 30 dias após a primeira infecção e intensificar suas respostas imunológicas. Isso se evidencia no aumento das atividades de limpeza e na mobilização de mais operárias para o combate, iguais a como o sistema imunológico humano reage a patógenos conhecidos.
“Considerando a colônia como um superorganismo, esses comportamentos funcionam como um sistema imunológico que defende a colônia dos invasores, como vírus e bactérias”, explica Aryel Goes, primeiro autor do estudo, que foi realizado durante seu mestrado no Instituto de Biociências (IB) da Unesp em Rio Claro, com apoio da FAPESP.
O estudo foi conduzido em experimentos onde colônias de formigas foram expostas repetidamente a um mesmo patógeno. As respostas foram mais intensas e rápidas nas colônias reexpostas após 30 dias do primeiro contato, mostrando uma memória imunológica substancial.
As formigas saúva-limão pertencem ao grupo das formigas-cortadeiras e mantêm uma relação de mutualismo com os fungos cultivados em suas colônias. Estes fungos oferecem nutrientes essenciais para as formigas, formando uma aliança ecológica bem estruturada.
Durante os experimentos com quatro patógenos diferentes, os pesquisadores observaram que a memória imune social das formigas poderia ser de duração limitada, exigindo exposições frequentes ao patógeno para manter a ‘memória'. Diferente do sistema imunológico humano, que pode permanecer reativo por anos, a resposta das formigas é temporária.
Em um terceiro experimento, foi testada a especificidade da resposta das formigas ao expô-las a um novo patógeno após a contaminação do original. As formigas mostraram um comportamento de limpeza menos intenso em resposta ao segundo patógeno, sugerindo cautela para não espalhar o novo contaminante.
Além disso, para descartar a hipótese de que os comportamentos higiênicos eram apenas respostas a substâncias não patogênicas, os pesquisadores aplicaram uma solução inofensiva. As respostas higiênicas foram significativamente menores, confirmando que as formigas reconhecem patógenos e suas diferentes exposições.
Os pesquisadores sugerem que a memória imune social pode melhorar a eficiência na remoção de contaminantes, beneficiando a sobrevivência do grupo. Embora ainda não exista uma análise conclusiva sobre como esses comportamentos influenciam a sobrevivência das formigas, futuros experimentos podem esclarecer esta questão.
Importante destacar que as formigas saúva-limão estão adaptadas a áreas abertas e podem ser consideradas pragas em monoculturas. Compreender a imunidade social desses insetos pode ser um passo crucial para desenvolver práticas de controle biológico eficazes e sustentáveis, evitando o uso de inseticidas químicos.
O artigo completo “Exploring immune memory traits in the social immunity of a fungus-growing ant” pode ser acessado aqui
Informações da Agência FAPESP