Notícia

Rádio Sagres 730 AM

Estudo revela que estresse afeta qualidade do sono e pode provocar quadros de dor (30 notícias)

Publicado em 22 de agosto de 2024

Um estudo conduzido por pesquisadoras da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), publicado no periódico Healthcare, revela que o estresse pode prejudicar a qualidade do sono e levar ao desenvolvimento de dores musculoesqueléticas. A pesquisa acompanhou 125 trabalhadores da área de saúde ao longo de um ano, focando nas relações entre estresse, qualidade do sono e dores musculoesqueléticas.

“Vimos que o estresse e o burnout aumentaram as chances de relatos de dores no corpo. Além disso, a qualidade ruim do sono também aumentou a chance de o trabalhador relatar esses incômodos. Uma análise mais profunda, chamada análise de mediação, mostrou que as pessoas que se sentem estressadas ou em burnout dormem pior, e isso pode explicar parte das dores sentidas”, destaca Tatiana Sato, docente do Departamento de Fisioterapia e do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia da UFSCar e uma das autoras do artigo.

Realizado durante a pandemia de Covid-19, o estudo faz parte da ampla pesquisa “Heroes – Health Conditions of Healthcare Workers”, financiada pela FAPESP e envolvendo o Departamento de Enfermagem da UFSCar. As pesquisadoras investigaram como as condições de trabalho na saúde, frequentemente associadas a sentimentos de injustiça, insatisfação, e alta carga de trabalho, podem aumentar o risco de dores.

“Essas condições podem ser diversas, sejam aspectos psicossociais, seja a percepção da pessoa sobre a forma como o trabalho é organizado”, explica Sato. “São manifestações de que o equilíbrio entre as demandas e a capacidade do trabalhador foi afetado”.

Demandas emocionais O estudo revelou que 75% dos trabalhadores avaliavam negativamente as demandas emocionais do trabalho e 61% se queixavam do ritmo intenso de serviço. Apesar da abundância de estudos sobre estresse e má qualidade do sono entre profissionais de saúde, a pesquisa identificou uma lacuna na literatura sobre como essas condições psicossociais podem influenciar dores musculoesqueléticas.

Conduzido de forma eletrônica devido às restrições sanitárias, o estudo incluiu trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS) e utilizou o Questionário Psicossocial de Copenhague (COPSOQ II-Br) para medir estresse, o Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI-Br) para avaliar o sono, e o Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares (QNSO) para identificar dores. A análise revelou que estresse e burnout estão associados a dores em múltiplas regiões do corpo, com a qualidade do sono atuando como um mediador significativo dessa relação.

“O estresse e o burnout já eram comuns nesses trabalhadores antes da pandemia, mas foram agravados pelas dificuldades do período, assim como a piora na qualidade do sono. Nossa ideia, então, foi avaliar todos esses aspectos e verificar se existia uma relação entre eles e os relatos de dores no corpo”, diz Sato.

Qualidade de sono ruim A pesquisa destacou que 74% dos participantes relataram ter uma qualidade de sono ruim, um problema sério, pois a privação de sono pode aumentar a sensibilidade à dor e comprometer a saúde cognitiva. “A gestão do estresse e do sono bem como as intervenções ergonômicas pós-pandemia de COVID-19 são urgentes nos serviços de saúde e podem ajudar a melhorar a saúde musculoesquelética”, escrevem as autoras.

Vivian Aline Mininel, docente da UFSCar e coautora do estudo, enfatizou a importância de adotar estratégias que melhorem as condições de trabalho e adequem as demandas físicas e emocionais ao perfil dos trabalhadores, para reduzir o estresse e melhorar a qualidade de vida geral.

“Ficamos muito satisfeitas com os achados, pois indicam caminhos para amenizar a dor desses trabalhadores, como melhorar a organização do trabalho visando à redução do estresse e burnout e melhorar a qualidade do sono. Entretanto, a baixa participação foi uma limitação importante. Esperamos que pesquisas futuras possam contar com maior número de pessoas”, comenta Mininel.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 3 – Saúde e Bem-Estar