O ácido fólico (folato), uma das vitaminas do Complexo B – encontrada em verduras de folhas verde-escuras, tomate, legumes, frutos secos, grãos integrais outras fontes - tem um papel controverso quando o assunto é câncer colorretal (intestino grosso e reto), havendo estudos que mostram que a deficiência de folato pode causar câncer de intestino, enquanto outros indicam que quando já existe uma lesão no intestino ou reto a suplementação de ácido fólico pode aumentar a progressão dessa lesão.
Partindo desta premissa, a nutricionista Ariana Ferrari - em sua dissertação para obtenção do título de Mestre em oncologia pela Fundação Antônio Prudente/A.C.Camargo - estudou a ingestão alimentar de ácido fólico em pacientes em pré-tratamento. O trabalho foi eleito o melhor pôster clínico do Ganepão 2013, evento promovido pela Ganep Nutrição Humana.
A pesquisa, sob orientação do cirurgião oncologista e chefe do Núcleo de Tumores Colorretais do A.C.Camargo, Samuel Aguiar Junior, consistiu na aplicação de um questionário de frequência alimentar em 195 pacientes com diagnóstico de câncer colorretal tratados na instituição. Em seguida, foi feita uma dosagem sérica do folato por meio de um exame de sangue, possibilitando checar os níveis de ácido fólico nas amostras sanguíneas de cada paciente.
Os pesquisadores esperavam encontrar uma deficiência de folato, mas o que se observou foi o contrário. “Vimos até mesmo pacientes com um erro de ingestão de folato a partir de suplemento. Não podemos ainda, no entanto, dizer que a alta ingestão está relacionada à doença”, disse Aguiar Junior.
Verificou-se que 11% dos pacientes ingeriam folato em excesso. Considerando apenas o grupo que fez uso de suplementos, o excesso de ácido fólico foi observado em cerca de metade destes pacientes. A pesquisa foi realizada no âmbito de Auxílio à Pesquisa oferecido pela FAPESP.
Os pesquisadores alertam que é importante que a população procure a orientação de um médico e/ou nutricionista antes de comprar algum suplemento multivitamínico. “O aumento no consumo de ácido fólico através da alimentação em combinação com o uso de suplementos multivitamínicos pode exceder as recomendações nutricionais e causar problemas na saúde dos indivíduos”, afirma Ariana Ferrari.
De acordo com Ariana Ferrari, o estudo abre portas para que outros trabalhos comparar estes achados com os que venham a ser observados em indivíduos sem histórico da doença. “A meta é sermos capazes de ver se existe diferença de ingestão entre os pacientes com câncer e paciente sem câncer e, a partir disso, adotar medidas eficazes. Além disso, poderemos no futuro relacionar essa ingestão de folato e os valores dos exames de sangue com possíveis alterações genéticas que podem estar presentes nesses pacientes”, completa Ariana Ferrari.