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Estudo revela mecanismo que piora tuberculose e reduz sobrevida | CNN Brasil (23 notícias)

Publicado em 29 de janeiro de 2024

Os linfócitos T CD4+ já foram amplamente descritos na literatura científica pelo seu importante papel na resposta imunológica durante infecções pulmonares.

No entanto, pesquisas publicadas na revista Relatórios de células demonstraram que o acúmulo excessivo dessas células de defesa nos tecidos pulmonares – responsáveis ​​pelas trocas gasosas essenciais para a respiração – está associado a danos aos pulmões, em vez de desempenhar uma função protetora.

A descoberta obtidos através de modelos de camundongos com tuberculose virulenta e gripe , aponta a presença de uma “quantidade ideal” de linfócitos no tecido pulmonar para garantir um bom desfecho da doença. Esta descoberta abre perspectivas para intervenções terapêuticas que visam reduzir o impacto no hospedeiro sem afetar a capacidade do sistema imunológico de combater a infecção. Mesmo números reduzidos de células T CD4+ no pulmão demonstraram ser suficientes para proteger contra tuberculose por exemplo.

Os pesquisadores observaram que o acúmulo de linfócitos no tecido pulmonar é mediado por um tipo específico de receptor, o P2RX7, capaz de detectar a presença de ATP (trifosfato de adenosina) extracelular. O ATP tem função energética para a célula, mas em contextos de estresse ou o dano tecidual é liberado no ambiente externo, atuando como um sinal de perigo para as células de defesa e, em alguns casos, induzindo uma resposta excessiva.

O P2RX7 induz o acúmulo excessivo de linfócitos, aumentando a expressão do CXCR3, um receptor de quimiocinas (proteínas que atuam como sinais químicos no sistema imunológico, atraindo células específicas para áreas onde são necessárias). Segundo o estudo, o acúmulo de células T CD4+ no pulmão induzido pela ativação do P2RX7 está ligado ao agravamento da patologia e à redução da sobrevida dos animais.

“Quando esse ATP está no meio extracelular, é reconhecido como um sinal de dano do sistema imunológico, já que a molécula que deveria estar dentro da célula saiu. Estudos mostraram sua importância para o desenvolvimento de formas graves de tuberculose, mas ainda não se sabia quais eram os mecanismos e especificamente qual célula mais a expressava. Iniciamos a pesquisa a partir daí, porém, sempre tivemos a intenção de melhorar a resposta dessa célula. O que não esperávamos era que, se retirássemos o receptor que bloqueava o reconhecimento do ATP, haveria uma melhora e não uma piora”, conta. Agência FAPESP o doutor em imunologia Igor Santiago-Carvalho do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP).

Primeiro autor do artigo, Santiago-Carvalho trabalhou sob orientação do professor Maria Regina D'Império Lima , que pesquisa imunologia celular, principalmente em malária, doença de Chagas e tuberculose, há mais de 20 anos. “Quanto mais pudermos entender quais são os principais ‘atores' no equilíbrio entre uma resposta imunológica deficiente, ótima e excessiva, maior será a chance de manipular essa resposta por meio de medicamentos e tratamentos que visem um melhor controle e desfecho da doença”, diz Lima.

Segundo o professor, os linfócitos T são jogadoras importantes neste processo devido à sua capacidade de estimular e regular a resposta imunológica. “Por isso, buscamos entender quais vias de sinalização influenciam nesse equilíbrio. Percebemos durante o projeto que quando o tecido está muito danificado acaba liberando uma grande quantidade de sinais de danos. Estávamos particularmente preocupados com o ATP e vimos que o número de linfócitos T que entravam no tecido ao detectar esta molécula era excessivo, induzindo uma resposta inflamatória intensa e prejudicial. Em alguns casos, leva até a um processo fibrótico no pulmão. Interferir nessa via de sinalização pode ser interessante para reduzir os danos causados ​​pela resposta imunológica excessiva contra a infecção”, completa.

O trabalho recebeu apoio da FAPESP por meio de uma Projeto Temático concedido a Lima, além de um Bolsa de Doutorado Direto para Santiago-Carvalho.

Gravidade

A tuberculose ainda é considerada um importante problema de saúde pública, agravado recentemente pelo surgimento de bactérias resistentes aos antibióticos. Infecciosa e transmissível, a doença afeta principalmente os pulmões.

Os sintomas mais comuns são tosse seca contínua, que após quatro semanas pode apresentar secreção; cansaço excessivo; febre baixa; suor noturno; falta de apetite; e perda de peso acentuada.

A demora no início do tratamento, a alta virulência das cepas e a suscetibilidade do paciente contribuem para a gravidade do caso, muitas vezes associado a uma resposta inflamatória deletéria, levando à dificuldade respiratória e até à necrose pulmonar. O tratamento é baseado em antibióticos durante seis meses, sem abandono ou irregularidade.

No mundo, novos casos diagnosticados de tuberculose foram recorde em 2022, com 7,5 milhões de casos registros o que representa o maior número desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) iniciou o monitoramento global em 1995. O crescimento foi atribuído à expansão dos Serviços de diagnóstico e tratamento.

Futuro

Inicialmente concebido para trabalhar com tuberculose, o estudo também testou o papel do P2RX7 específico para CD4+ T em ratos infectados com gripe. O resultado foi semelhante.

“Isso realmente motivou o que estou fazendo enquanto continuo a estudar como os sinais de danos controlam as respostas imunológicas. No artigo, chegamos à conclusão de que as células T CD4+ podem ser patogênicas. Agora queremos entender o que leva ao aumento dessa patogênese para defini-la e mostrar os mecanismos por trás dela, que podem ser aplicados a outras doenças. Ao compreender as características desta célula que acabam induzindo uma resposta tão forte a ponto de danificar o tecido, é possível buscar alternativas terapêuticas”, explica Santiago-Carvalho.

Atualmente está no Departamento de Imunologia da Mayo Clinic (Estados Unidos), trabalhando no laboratório do pesquisador Henrique Borges da Silva coautor do estudo.

O artigo P2RX7 específico de células T favorece o acúmulo de células T CD4 + do parênquima pulmonar em resposta a infecções pulmonares graves pode ser lido em: www.cell.com/cell-reports/fulltext/S2211-1247(23)01460-2#%20

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Originalmente publicado em https://www.cnnbrasil.com.br/saude/estudo-revela-mecanismo-que-agrava-tuberculose-e-reduz-sobrevida/