O número de médicos generalistas no Brasil — ou seja, aqueles que ainda não possuem título de especialização — cresceu de forma significativa nos últimos seis anos. Em 2018, eram 153,8 mil profissionais nessa categoria. Em 2024, esse total saltou para 244,1 mil. Os dados fazem parte do estudo Demografia Médica no Brasil 2025 (DMB), divulgado nesta quarta-feira (30).
A pesquisa é fruto de uma parceria entre o Ministério da Saúde, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e a Associação Médica Brasileira (AMB). O levantamento reúne informações sobre a formação, especialização e atuação dos médicos no país.
Um dos principais pontos do estudo é a disparidade entre o número de médicos formados e a oferta de vagas em programas de residência médica — principal caminho para a especialização. Enquanto mais profissionais se formam, as oportunidades para ingressar na residência não crescem no mesmo ritmo.
Em 2018, o Brasil tinha 167.788 estudantes de medicina na graduação e 37.742 médicos em residência. Em 2024, os números subiram para 287.413 e 47.718, respectivamente.
O levantamento também mostra que muitos médicos demoram a iniciar a especialização. Segundo os dados, 51,5% ingressam na residência até um ano após a formatura; 22,1% até dois anos; 12,5% até três anos; 9,2% até cinco anos; e 4,7% levam mais de cinco anos.
Com a escassez de vagas em residência, cresceu a oferta de cursos de pós-graduação Lato Sensu em especialidades médicas. Apesar de reconhecidos pelo Ministério da Educação (MEC), esses cursos não têm regulamentação do Conselho Federal de Medicina (CFM) ou dos conselhos regionais.
Entre as especializações mais ofertadas por esse formato estão Endocrinologia e Metabologia, Dermatologia, Psiquiatria, Radiologia e Diagnóstico por Imagem, além de Hematologia e Hemoterapia.
Apesar do avanço dos generalistas, o número de especialistas também aumentou no país: de 2011 a 2024, o crescimento foi de 154%. Cerca de 31% desses profissionais possuem mais de uma especialidade. As áreas com maior crescimento foram Clínica Médica (49.340 novos especialistas), Cirurgia Geral (25.273) e Pediatria (22.581).
A residência médica ainda é a principal porta para a especialização, sendo o caminho seguido por 63,7% dos especialistas. Já 36,3% obtiveram o título por meio de sociedades de especialidade.
Porém, a distribuição desses profissionais no país é desigual. Enquanto o Distrito Federal tem 72,2% de seus médicos especializados, Rondônia registra apenas 46,5%. No Piauí, o índice é ainda menor: 45,1%. A maior concentração de especialistas está na região Sudeste (55,4%), seguida do Sul (16,7%), Nordeste (14,5%), Centro-Oeste (7,5%) e Norte (5,9%).
Comparado aos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil ainda tem uma proporção menor de médicos especialistas: 59,1% contra a média de 62,9% da organização.
Outro destaque do estudo é a crescente presença feminina na medicina. Pela primeira vez, as mulheres se tornarão maioria entre os médicos no Brasil, alcançando 50,9% da categoria em 2025.
Em 2010, elas representavam 41% da força médica no país. A projeção é que, até 2035, cheguem a 56%. Na graduação, o crescimento é ainda mais visível: a participação feminina passou de 53,7% em 2010 para 61,8% em 2023.
Apesar disso, a predominância feminina está concentrada em apenas 20 das 55 especialidades médicas. A Dermatologia lidera com 80,6% de mulheres na área.