Notícia

Agrolink

Estudo revela absorção de carbono nas florestas tropicais (34 notícias)

Publicado em

Um novo estudo publicado na revista Nature nesta quarta-feira (15/03) apresenta uma nova metodologia que permite calcular ao longo do tempo a capacidade de absorção de carbono de áreas em regeneração de florestas tropicais. A metodologia poderá contribuir para discussões sobre planos de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas e pagamentos por serviços ambientais.

Liderado por cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Universidade de Bristol, o estudo é o primeiro do gênero a ser feito em larga escala por sensoriamento remoto. Os dados de satélite, obtidos entre 1984 e 2018, permitem não apenas monitorar o crescimento das florestas secundárias, mas também entender a distribuição etária dessa vegetação nos trópicos.

Com base na idade, foi possível construir curvas de crescimento que levam em conta variações climáticas, condições ambientais e perturbações antrópicas como queimadas e extração seletiva de madeira. Essas curvas permitem quantificar a capacidade de absorção de carbono das florestas secundárias, que são áreas onde toda a vegetação nativa foi removida.

Segundo o estudo, as regiões em recuperação das três maiores florestas tropicais do mundo - Amazônia (América do Sul), Congo (África Central) e Bornéu (Sudeste Asiático) - estão retirando da atmosfera pelo menos 107 milhões de toneladas de carbono por ano, acumulando 3,56 bilhões de toneladas até 2018.

Esse total acumulado é suficiente para compensar 26% - pouco mais de um quarto - das emissões brutas de carbono causadas pelo desmatamento global (10,52 bilhões de toneladas) e pela degradação antrópica (2,91 bilhões de toneladas), principalmente queimadas e corte seletivo de madeira, muitas vezes ilegais.

"Os resultados da pesquisa são importantes tanto para os inventários nacionais de emissões de carbono apresentados às Nações Unidas quanto para o grande potencial do Brasil em atrair recursos financeiros por meio de investimentos em áreas de manejo e pagamento por serviços ambientais", disse Luiz Eduardo Oliveira e Cruz de Aragão, chefe do da Divisão de Observação da Terra e Geoinformática (DIOTG) do Inpe, e coautor do artigo.

Aragão refere-se ao programa de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD+), incentivo desenvolvido no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) para compensar financeiramente países em desenvolvimento por resultados em programas de redução de emissões de gases de efeito estufa provenientes do desmatamento e degradação florestal.

O programa considera o papel da conservação e aumento dos estoques de carbono florestal, bem como o manejo florestal sustentável. Os inventários nacionais são relatórios publicados pelos países e enviados à UNFCCC com dados e uma visão geral das ações para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

"Nosso estudo fornece as primeiras estimativas pan-tropicais de absorção de carbono acima do solo na recuperação de florestas da degradação e do desmatamento. Embora continue sendo uma prioridade proteger florestas tropicais antigas, mostramos o valor de áreas de manejo sustentável que podem se recuperar de ações humanas", disse Viola Heinrich, principal autora do artigo e aluna de Aragão, em depoimento à Universidade de Bristol.

Segundo a pesquisa, até 2018, cerca de 35% das áreas degradadas nas três florestas tropicais também haviam sido desmatadas. Os pesquisadores estimam que, se essas áreas tivessem sido preservadas, armazenariam 5,89 bilhões de toneladas de carbono, o que seria suficiente para compensar 48% das emissões brutas da perda florestal (12,34 bilhões de toneladas).

Áreas que sofreram danos por incêndio ou corte seletivo e perderam parcialmente seu estoque de carbono são consideradas florestas degradadas. Nas regiões desmatadas, toda a vegetação original foi removida, podendo haver mudanças no uso da terra para pastagem ou agricultura e altos índices de emissão de gases.