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Estudo reforça papel dos biocombustíveis como solução imediata para descarbonização dos transportes (47 notícias)

Publicado em 16 de junho de 2025

Trabalho liderado pela Profa. Dra. Glaucia Souza da USP aponta que o Brasil pode reduzir até 800 milhões de toneladas de CO₂ até 2030, sem comprometer a produção de alimentos

A descarbonização dos transportes foi o tema central do seminário “Brasil em Movimento: Segurança Energética e Alimentar - As rotas para o sucesso dos biocombustíveis e da bioeletrificação”, promovido pelo Acordo de Cooperação Mobilidade de Baixo Carbono para o Brasil (MBCBrasil), realizado nesta segunda-feira (16), em São Paulo (SP).

O encontro reuniu representantes do setor público, Governo, iniciativa privada e academia, e marcou a apresentação do estudo “Biocombustíveis como solução imediata e eficaz para a descarbonização do transporte”, conduzido pela Professora Doutora Glaucia Souza, da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do Programa BIOEN da FAPESP, que recebeu no mês passado o mais alto nível de reconhecimento do Governo Brasileiro, o título de Comendadora da Ordem de Rio Branco, pelas mãos do Presidente, por sua notável contribuição à diplomacia científica e ao avanço da sustentabilidade.

O estudo apresentado trouxe uma mensagem clara de que o Brasil não precisa esperar por inovações tecnológicas futuras para reduzir suas emissões no transporte. O documento, produzido com o apoio da Be8, revela que a bioenergia já corresponde a 50% dos recursos renováveis globais e que os biocombustíveis são vitais para conter o aquecimento global, com necessidade de expansão de 2,5 vezes até 2030. Isso representaria um corte de quase 800 milhões de toneladas de CO2 fóssil, ou 10% das emissões globais atuais do transporte.

Durante a abertura do Seminário, José Eduardo Luzzi, coordenador do Conselho de Administração do MBCBrasil, destacou a importância do encontro. "Este seminário é um marco para o debate sobre a mobilidade sustentável no país. Nosso objetivo é apresentar soluções concretas, baseadas em ciência e reforçar que o Brasil tem um potencial imenso para liderar a descarbonização do transporte. Temos a tecnologia, a capacidade produtiva e um histórico de sucesso no uso de biocombustíveis. Transformar esse potencial em ação, tanto no campo dos biocombustíveis quanto na bioeletrificação, é uma questão de estratégia e compromisso”, declarou.

A professora Glaucia Souza, em sua apresentação, destacou o potencial transformador dos biocombustíveis em um dos maiores mercados de transporte do mundo. “Os biocombustíveis são muito mais do que uma alternativa, mas uma realidade que o Brasil já domina. Eles desempenham um papel essencial na transformação do setor de transporte, não só pela redução de emissões de CO₂, mas também pela possibilidade de integração com tecnologias existentes, proporcionando um impacto direto na mitigação das mudanças climáticas e desenvolvimento socioeconômico”, afirmou a professora.

O estudo também rebate uma das críticas mais comuns ao uso de biocombustíveis: a suposta competição com a produção de alimentos. Segundo Glaucia, os dados analisados mostram que essa correlação não se sustenta cientificamente.

A pesquisa reforça que a agricultura pode, em paralelo, prover biomassa para vários produtos, por exemplo, alimentos, biocombustíveis, bioeletricidade, outros usos e reciclar os resíduos. Além disso, práticas agrícolas como o cultivo duplo têm mostrado que a agricultura pode contribuir para chegarmos à neutralidade de carbono, melhorando a eficiência do uso da terra e promovendo co-benefícios como a biodiversidade e o sequestro de carbono no solo. "Desmistificar essa falsa competição entre alimentos e bioenergia é essencial. Os biocombustíveis, quando produzidos de forma sustentável, podem ser um motor de desenvolvimento e potencializar a sustentabilidade do setor agrícola, abrindo novos mercados e valorando a nossa produção", destacou a professora Glaucia Souza.

O debate também contou com a participação de Erasmo Carlos Battistella, CEO da Be8; Evandro Gussi, presidente e CEO da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA) e membro do conselho do MBCBrasil; Arnaldo Jardim, deputado federal, relator do combustível do futuro e foi comandado por Priscilla Cortezze, Diretora de Comunicação da Copersucar. De acordo com o executivo da Be8, os biocombustíveis representam uma oportunidade de modernização e fortalecimento da indústria brasileira, especialmente no campo da bioenergia. “Nossa missão é defender o uso dos biocombustíveis como ferramenta de descarbonização, além de promover o fortalecimento do setor agrícola e da cadeia produtiva nacional”, afirmou Erasmo Battistella.

Gussi complementou sobre a necessidade de um arcabouço regulatório favorável, com políticas públicas consistentes e de longo prazo. “É preciso haver alicerce para que o setor de biocombustíveis continue inovando e expandindo sua contribuição para a matriz energética brasileira e para o cumprimento das metas ambientais. O diálogo fomentado pelo MBCBrasil é essencial para construir essas pontes entre o setor e o poder público, garantindo previsibilidade e segurança para os investimentos necessários”.

O estudo também coloca os biocombustíveis como um dos pilares para a formação de uma ‘economia verde' no Brasil. Com o aumento da demanda global por soluções de baixo carbono, as projeções apontam que, até 2030, o Brasil poderia ampliar significativamente sua participação no mercado global de biocombustíveis, posicionando-se como líder mundial no setor e gerando milhares de novos empregos sustentáveis.

“Juntos, podemos transformar o Brasil em um exemplo mundial de como os biocombustíveis serão uma das soluções para a descarbonização. Combinando nosso conhecimento, tecnologia e capacidade produtiva, temos condições de mostrar ao mundo que é possível aliar produção agrícola e sustentabilidade. O MBCBrasil está na linha de frente dessa transformação, promovendo a integração entre biocombustíveis e bioeletrificação como caminhos complementares para uma mobilidade de baixo carbono. Este seminário é mais um passo concreto nessa direção", concluiu Luzzi.