José Tadeu Arantes | Agência FAPESP
A história da poluição por metais na cidade de São Paulo pode ser lida nas camadas de sedimentos acumuladas ao longo do último século. Por meio da paleolimnologia – método que permite reconstruir mudanças ambientais passadas com base em testemunhos sedimentares –, pesquisadores reconstruíram um século de poluição por metais na capital a partir de amostras coletadas no Lago das Garças (foto acima), no Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (Pefi). O estudo evidenciou forte correlação entre a industrialização, o crescimento populacional e o aumento desse tipo de poluente. Os resultados foram publicados na revista Environmental Science and Pollution Research.
Os cientistas analisaram as concentrações de oito metais – cobalto, cromo, cobre, ferro, manganês, níquel, chumbo e zinco – no fundo do reservatório, cujos sedimentos guardam registros de aproximadamente cem anos.
“Tudo o que vai acontecendo em uma bacia de drenagem acaba, de alguma forma, ficando registrado nos sedimentos dos ambientes aquáticos. Escolhemos o Lago das Garças pelo fato de ele nunca ter sido dragado, o que permitiu a preservação da sequência histórica da deposição de poluentes”, conta Tatiane Araujo de Jesus, coordenadora do Laboratório de Sistemas de Engenharia Ecológica da Universidade Federal do ABC (UFABC) e primeira autora do artigo.
Os pesquisadores coletaram testemunhos de sedimentos com o auxílio de mergulhadores. Esses testemunhos são cilindros verticais de material depositado do fundo do lago. Como o carbono-14 não se presta à datação de amostras relativamente recentes, as camadas foram datadas por meio do chumbo-210. O princípio físico é o mesmo do carbono-14: o decaimento radioativo do isótopo. “O chumbo-210 tem uma meia-vida de aproximadamente 22,3 anos, então, por meio da atividade desse isótopo, conseguimos atribuir uma idade a cada camada de sedimentos, como se estivéssemos numerando as páginas de um livro”, explica Jesus.
(a) Testemunho sedimentar; (b-c) Detalhe do fatiamento das amostras a cada 1 cm (fotos: Tatiane Araujo de Jesus)
Os resultados revelaram três grandes períodos na evolução da poluição por metais na cidade de São Paulo. Camadas correspondentes ao período pré-industrial, que se estendeu até 1950, apresentaram baixas concentrações de metais, refletindo uma época em que o local era menos impactado por atividades humanas. Vale lembrar que o reservatório, formado pelo represamento do córrego do Campanário em 1893, foi usado para abastecimento de água até 1928.