Diante desse cenário, a pesquisa afirma que o Código Florestal, caso fosse corretamente aplicado, seria capaz de reduzir as emissões líquidas em apenas 38% até 2050. Isso porque o estudo estima que o desmatamento legal, aquele permitido pelo Código Florestal, pode chegar a 32 milhões de hectares até 2050, uma área do tamanho do estado do Maranhão. Do total do desmatamento legal, quase metade (48%) deve ocorrer no Cerrado.
“Vai ser muito difícil reduzir as emissões com a agricultura, vai ser muito difícil reduzir as emissões com a energia, então o potencial maior pro Brasil é realmente com o setor de uso da terra”, destacou Aline.
A solução sugerida pelo estudo, calculada por meio de modelos matemáticos, é de um desmatamento zero, legal e ilegal, somado a um reflorestamento de 35 milhões de hectares. Com isso, a meta de net zero seria 62% cumprida.
Agropecuária
O estudo calculou ainda como ficaria a produção de carne bovina e de soja caso fosse adotada a sugestão de acabar com todo o desmatamento, aplicar corretamente o Código Florestal e reflorestar em larga escala. Afinal, a pesquisa calculou que, de 2019 a 2021, quase 98% das áreas desmatadas no Brasil foram diretas ou indiretamente impulsionadas pela agropecuária.
Pelos cálculos matemáticos realizados, a produção de carne bovina poderia cair de 8% a 17% e a de soja de 3% a 10% até 2050, caso essas medidas sejam adotadas. Para Aline Soterroni, “é uma queda pequena frente aos serviços ecossistêmicos e proteção da biodiversidade que esse cenário vai proporcionar, que será importante para adaptação e resiliência às mudanças climáticas. O Brasil pode acomodar sua produção e continuar exportando com desmatamento zero”.
A cientista ambiental brasileira acrescentou que é preciso ainda aumentar a produtividade, principalmente da pecuária que, no Brasil, ocupa extensas áreas para poucas cabeças de gado. Ao mesmo tempo que é um dos vetores do desmatamento, a agropecuária deve ser duramente afetada pelas mudanças climáticas.
“A agricultura brasileira depende dos serviços ecossistêmicos da natureza, afinal 90% da agricultura do Brasil não são irrigados, ela depende da água da chuva. Portanto, é fundamental manter o equilíbrio dos ecossistemas para o próprio futuro da agricultura brasileira. Para isso, é estratégico acabar com o desmatamento e não há necessidade de desmatar para continuar produzindo”, explicou.
Aline lembrou que o Brasil ainda não incluiu a meta de zerar as emissões líquidas de gases do efeito estufa até 2050 nos planos e legislações nacionais. “Você precisa de um plano com metas intermediárias, com metas de emissões de cada setor e monitorar isso com ambição”, concluiu.