Objetivo da pesquisa é controlar a hipertensão e as doenças cardiometabólicas a ela associadas, como distúrbios do cérebro, coração e rins, associadas por meio do entendimento de como o sistema nervoso regula as funções cardiovasculares do organismo
Controlar a hipertensão entendendo como o sistema nervoso regula as funções do sistema cardiovascular é o objetivo de uma pesquisa do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP que conquistou a primeira colocação do Prêmio Alvaro Osório de Almeida, da Sociedade Brasileira de Fisiologia (SBFis). O trabalho da doutoranda do programa de fisiologia humana do ICB, Karoline Martins dos Santos, foi premiado durante a última Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE) no mês de setembro.
O prêmio é o mais tradicional da entidade e seu nome é em homenagem ao primeiro fisiologista brasileiro. A premiação reconhece jovens cientistas que se destacam pela relevância, inovação e contribuição à área de fisiologia. A pesquisadora, que recebe bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para a realização de sua pesquisa, integra a equipe do Laboratório de Controle Neural da Circulação do ICB, coordenado pelo professor Vagner Roberto Antunes.
Para Antunes, a premiação reconhece o trabalho de jovens talentos que são o futuro da ciência no país. “A pós-graduação é a engrenagem que gera e movimenta a maior parte da pesquisa desenvolvida nesse país”, destaca o professor. “Estimular esses jovens que são mentes brilhantes e que temos o privilégio de receber no dia a dia em nossos laboratórios é extremamente gratificante e é um investimento para o desenvolvimento e futuro de uma nação”.
Olhar integrado
A abordagem inovadora da pesquisa desenvolvida por Karoline dos Santos é resultante do entendimento da hipertensão por meio de um olhar integrado da neurociência com o sistema cardiovascular. “Atualmente, há uma escola muito bem difundida no mundo no campo da neurociência do sistema nervoso autônomo que atribui como uma das causas da hipertensão um componente neural que participa do controle das funções cardiovasculares, o que chamamos de hipertensão neurogênica”, contextualiza Antunes.
Ativação do sistema nervoso parassimpático, associado aos efeitos de calmaria e e repouso, promove diminuição da frequência cardíaca e da pressão arterial, bem como da disponibilidade de glicose – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
O grupo parte dessa abordagem integrada para entender os mecanismos fisiológicos relacionados às doenças crônicas cardiometabólicas, como a hipertensão, diabetes e a resistência à insulina. Essas patologias estão associadas a pelo menos três das dez principais causas de mortes no mundo, segundo relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em maio deste ano. O outro diferencial do estudo está no olhar estratégico para uma parte do sistema nervoso autônomo ainda pouco pesquisada: o sistema parassimpático. Os mecanismos simpático e parassimpático agem coordenadamente e produzem efeitos antagônicos que regulam várias funções do corpo humano frente aos estímulos do sistema nervoso.
“A ativação do simpático tem um efeito acelerador, que resulta em aumento na pressão arterial e na disponibilização de glicose no sangue para que o organismo possa reagir em situações, como por exemplo, frente ao um comportamento de luta e fuga”, explica Karoline. “Já o sistema parassimpático sempre esteve mais relacionado aos efeitos de calmaria e repouso, como um freio, sendo que sua ativação promove diminuição da frequência cardíaca e pressão arterial, bem como da disponibilidade de glicose sanguínea, ou seja, age fazendo o contrário do simpático”.
Desaceleração
Nos estudos sobre hipertensão, as pesquisas existentes mostram que o sistema simpático é mais ativo em relação ao seu antagonista, situação que os cientistas chamam de simpato-excitação. “Nosso estudo, ao invés de focar nos mecanismos que diminuem essa hiperatividade do simpático, buscamos ativar em longo prazo o parassimpático. Dessa forma, ao invés de tirar o acelerador, a gente pisa no freio”, detalha a pesquisadora.
Os resultados obtidos até agora apontam que o sistema parassimpático tem um papel importante no controle da hipertensão e também das doenças crônicas cardiometabólicas a ela associadas. Com técnicas integradas de farmacogenética e terapias não farmacológicas como por exemplo, exercício físico aeróbio, por exemplo, o grupo observou melhora nos índices metabólicos em modelos animais experimentais de hipertensão.
Antunes reforça a importância do estudo para a formulação de tratamentos para o controle das doenças cardiometabólicas. “A partir do entendimento das alterações dos mecanismos fisiológicos dessas doenças é possível pensar no desenvolvimento de novas terapias com ação direta no sistema nervoso autônomo e, principalmente, em terapias alternativas que considerem um estilo de vida com práticas regulares de exercício físico e alimentação equilibrada para o bem-estar e saúde do coração”, recomenda o professor.
Juliane Duarte / Assessoria de Comunicação do ICB
Mais informações: e-mail antunes@icb.usp.br, com o professor Vagner Roberto Antunes