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Estudo: produção de carne bovina emite mais gases que limite previsto (34 notícias)

Publicado em 16 de abril de 2025

A produção de carne bovina é um dos pilares da economia brasileira e base da alimentação da população. No entanto, da forma como é realizada atualmente, a atividade tem emitido mais do que o dobro do limite de gases de efeito estufa para cumprir metas ambientais internacionais. O estudo foi realizado por pesquisadoras da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e publicado em fevereiro na revista científica Environmental Science and Pollution Research.

A equipe de pesquisa avaliou os cenários futuros de emissões junto com o impacto econômico deles. As cientistas calcularam que as emissões de gases do setor podem variar entre 0,42 e 0,63 gigatoneladas de CO2 equivalente (GtCO2e) até 2030, sendo que o limite para atender à meta da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, sigla em inglês) seria de 0,26 GtCO2e.

O quadro não é irremediável: se forem aplicadas estratégias para a redução das emissões ao longo da cadeia produtiva, o país poderia evitar perdas econômicas de até US$ 42,6 bilhões e ainda aumentar a competitividade do setor.

As pesquisadoras utilizaram como base a Nationally Determined Contributions em vigor até 2024, que estima a meta de reduzir 43% das emissões até 2030 em comparação ao nível de 2005. Em novembro do ano passado, o Brasil apresentou uma nova meta à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), com redução de 59% a 67% até 2035.

“Sabemos da importância do setor de carne bovina não só para a economia como para o cardápio dos brasileiros. Nosso objetivo não é dizer: produzam ou comam menos carne, mas sim trazer uma discussão sobre a forma atual de produção, que vem atrelada ao desmatamento, a altas emissões e sem adotar técnicas sustentáveis. Assim, não conseguiremos cumprir as metas climáticas estabelecidas. Nossas descobertas mostram que é preciso adotar na cadeia produtiva práticas que mitiguem as emissões. Isso contribui também com a redução dos custos associados às mudanças climáticas”, explica a primeira autora do artigo e bióloga Mariana Vieira da Costa, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em entrevista à Agência Fapesp.

No estudo, as autoras também utilizaram um indicador que mostra o impacto financeiro das emissões de CO2 na sociedade chamado de custo social do carbono (CSC). Ele serve de referência para a criação de políticas climáticas.

O CSC está ligado aos custos econômicos causados pela emissão de uma tonelada de CO2, incluindo os impactos não comerciais sobre o meio ambiente e a saúde humana, como perdas na agricultura e efeitos de desastres climáticos, como enchentes e secas. Esses custos podem ser reduzidos ou redirecionados para investimentos em práticas de produção pecuária mais sustentáveis por meio de políticas públicas, por exemplo.

De acordo com a pesquisa, se forem feitas ações para reduzir as emissões na pecuária, o Brasil pode evitar custos de US$ 18,8 a 42,6 bilhões até 2030.

Por fim, as cientistas consideram que se medidas não forem tomadas para a redução expressiva de gases, o aumento da temperatura média global diminuirá a produção agrícola, aumentará os incêndios florestais e intensificará o aparecimento de problemas de saúde pública, inclusive elevando a mortalidade.

Acordo de Paris

A NDC é o compromisso que os países assumiram no Acordo de Paris, assinado em 2015, com o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5°C em relação à era pré-industrial (entre 1850 e 1900). No entanto, o planeta está ultrapassando esse limite: de acordo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), 2024 foi o ano mais quente da história, com aumento de 1,55°C na temperatura média.

O acordo passará por revisão neste ano até a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), que será realizada em Belém, no Pará.