WASHINGTON - Um grupo de pesquisadores da Universidade do Estado de Ohio está à beira de uma descoberta que pode ser fundamental para o tratamento do câncer. Os pesquisadores, que há 10 anos descobriram uma proteína aparentemente comum a todos os tumores malignos, pretendem testar o impacto de um antígeno contra a proteína, que eles chamam de OFP-55, no tratamento da doença.
Os pesquisadores sabem que têm um provável trunfo científico nas mãos, e a descoberta ocorreu quase por coincidência. Vários anos atrás, dois biólogos da universidade estavam fazendo um estudo encomendado pelos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) sobre o impacto de diferentes dietas em ratos com câncer da mama, quando, "numa brincadeira", injetaram anticorpos da OFP-55 nos ratos. "Os tumores desapareceram", disse ao JORNAL DO BRASIL esta semana Paul Stromberg, um dos coordenadores do estudo. "Não acreditamos no resultado, então, repetimos a experiência, e os tumores desapareceram mais uma vez. Repetimos o ensaio várias vezes, com o mesmo resultado. Foi algo espetacular. Até hoje eu não sei se acredito."
A descoberta, revelada pela primeira vez pelo programa Scientia da Globosat, parece tão importante que a primeira pergunta a ser feita só pode ser uma: o que os senhores estão esperando para determinar exatamente o potencial terapêutico do antígeno em seres humanos? Os pesquisadores, que além de Stromberg incluem a bióloga Dorothy Shumm e seu colega Tom Webb, responsáveis pela descoberta da proteína OFP-55 na década de 80, não tem pressa, nem dinheiro.
"A descoberta da cura do câncer", disse Shumm ao programa Scientia, "já foi vendida muitas vezes antes". Testes científicos e protocolares do antígeno em animais ainda nem foram iniciados, e os estudos em humanos, que levarão anos, só serão possíveis depois de terminada a primeira fase de testes. O NIH, órgão de pesquisa medicando governo americano, foi informado dos resultados dos testes nos ratos, mas não liberou verba para financiar estudos mais aprofundados. Pediram mais resultados "preliminares".
"Estamos dando ênfase no desenvolvimento de um kit diagnóstico", disse Stromberg. A estratégia da Protyde Pharmaceutical Inc. - empresa que financia as pesquisas do grupo em troca dos direitos de lucrar, no futuro, com seus resultados práticos - é investir no potencial imunoterapêutico do antígeno da OFP-55.
Stromberg, que se especializa em biotecnologia veterinária, acredita que esta especialidade o caminho mais lógico para o novo tratamento. Gatos, por exemplo, apresentam câncer de mama com freqüência, que é similar ao que ocorre em mulheres. "Hoje não existe tratamento para esses animais", diz Stromberg. Ele afirma que há um enorme mercado nos EUA para o tratamento de animais com tumores. "Se o antígeno pudesse melhorar a curva de sobrevivência dos gatos, conseguiríamos despertar interesse para os testes em humanos", imagina.
A equipe da Universidade do Estado de Ohio é extremamente cuidadosa em divulgar detalhes sobre como a OFP-55 funciona, sua biologia molecular ou quais seriam seus fins comerciais, devido a várias patentes pendentes com o governo americano. Trata-se de uma proteína que ocorre no citoplasma de tumores malignos.
A proteína pode ser detectada muito cedo no curso da formação do tumor e não tem similares. A medicina conhece apenas marcadores para alguns tumores específicos - como para os da próstata, do fígado e cólon.
A comercialização de um teste para determinar a presença da proteína OFP-55 no sangue entusiasma alguns médicos, mas não todos. A proteína pode ser detectada antes que o tumor exista mas o médico não saberia exatamente onde procurar o câncer. Stromberg argumenta, porém, que quanto mais cedo a existência de um tumor for detectada, melhores seriam as chances de sobrevida de animais e seres humanos.
Notícia
Jornal do Brasil