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Estudo pode ajudar a prevenir e tratar infecções fatais em diabéticos (1 notícias)

Publicado em 03 de março de 2015

Uma nova estratégia com potencial para tratar infecções generalizadas em portadores de diabetes do tipo 1 foi proposta por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) em artigo publicado na revista "Science Signaling" no final de janeiro e divulgado nesta terça-feira (3), no site da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

Em experimentos com camundongos diabéticos, o grupo do Instituto de Ciências Biomédicas conseguiu reduzir em 40% a mortalidade por infecção generalizada, ou sepse, ao tratar os animais com uma substância capaz de inibir a síntese de um mediador inflamatório conhecido como leucotrieno, que estimula a produção de glóbulos brancos, responsáveis por defender o organismo de infecções. Drogas semelhantes já são usadas no combate à asma e a outras doenças alérgicas.

"Nosso trabalho mostrou que os camundongos com diabetes tipo 1 apresentam inflamação sem que haja infecção, por conta da ação do leucotrieno LTB4. Essa inflamação de base aumenta a suscetibilidade à sepse", explicou Luciano Filgueiras, autor principal do artigo. Filgueiras explica que a diabetes tipo 1 se desenvolve quando o próprio sistema imunológico do paciente destrói parte das células pancreáticas responsáveis pela produção de insulina, fazendo com que os níveis desse hormônio no organismo se tornem insuficientes para controlar os níveis de açúcar no sangue.

A infecção generalizada, chamada de sepse por cientistas, é caracterizada por uma inflamação sistêmica potencialmente fatal, que produz mudanças na temperatura corporal, na pressão arterial, na frequência cardíaca, na contagem de células brancas do sangue e na respiração. As formas mais graves costumam causar disfunção no funcionamento de diversos órgãos, condição conhecida como choque séptico.

Os experimentos foram conduzidos durante o doutorado de Filgueiras – parte no Laboratório de Imunofarmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas e parte no laboratório do professor Henrique Serezani, na Indiana University – Purdue University Indianapolis, nos Estados Unidos.

Experimentos

O modelo usado pelos pesquisadores consistiu em induzir a diabetes tipo 1 em camundongos com a injeção de uma droga que destrói as células pancreáticas produtoras de insulina. "Nosso trabalho trouxe à tona uma nova possibilidade terapêutica para essas drogas experimentais. E isso é relevante, pois nos últimos 50 anos não surgiu nenhum tratamento capaz de aumentar a sobrevida de pacientes com sepse de forma significativa", comentou o pesquisador.

A infecção generalizada era provocada por um método conhecido como ligação e perfuração do ceco (CLP, na sigla em inglês), no qual uma abertura é feita no intestino de forma a permitir o extravasamento de fezes e de bactérias para a cavidade peritoneal (na região do abdome).

Os camundongos foram divididos em três grupos: não diabéticos com sepse, diabéticos com sepse e diabéticos com sepse tratados com o inibidor de LTB4.

No grupo de diabético não tratado, 100% dos animais morreram cerca de 24 horas após a perfuração do intestino em decorrência da inflamação sistêmica. No grupo tratado com o inibidor de LTB4, 40% dos camundongos sobreviveram durante os seis dias de duração do experimento. No grupo de camundongos não diabéticos, o índice de sobrevivência à sepse foi de 60%.

O tratamento com o inibidor de LTB4 foi iniciado 16 horas antes da perfuração do intestino. Uma segunda dose foi administrada 8 horas antes do procedimento. Após a perfuração, a droga foi oferecida a cada 12 horas, durante seis dias.

Além de reduzir a mortalidade, a terapia também controlou o quadro inflamatório, o que foi avaliado pela produção de citocinas anti e pró-inflamatórias.

Em um outro experimento, o grupo avaliou a resposta à sepse em camundongos modificados geneticamente para não expressar o receptor do LTB4. Nesse caso, tanto os animais com diabetes quanto os não diabéticos tiveram sobrevivência de 100% ao final dos seis dias do experimento.

"Na ausência do receptor do LTB4, portanto, não houve diferença entre diabéticos e não diabéticos no que se refere à suscetibilidade à sepse", comentou Filgueiras.

Os cientistas também compararam grupos de camundongos com diabetes do tipo 1 e do tipo 2, na qual há um aumento na produção de insulina pelo pâncreas. Nos diabéticos tipo 2, as células do fígado, músculo e tecido adiposo apresentam resistência à insulina, o que leva à hiperglicemia, embora os macrófagos ainda sejam responsivos a esse hormônio.

De acordo com Filgueiras, drogas capazes de inibir a síntese de outros tipos de leucotrienos já são usadas no tratamento de asma e outras doenças alérgicas. Substâncias capazes de inibir especificamente o LTB4 ainda estão em fase de desenvolvimento e não foram testadas no tratamento da sepse ou da diabetes do tipo 1 em humanos.