Exercícios de força com carga moderada a vigorosa, dois ou três dias na semana, a partir de oito semanas, são eficientes no tratamento de hipertensos. Entenda.
Estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) conclui que o treinamento de força (musculação) – desde que praticado com carga de moderada a vigorosa, dois ou três dias por semana – é uma alternativa natural e eficaz para diminuir a pressão arterial. Os achados da pesquisa foram publicados em janeiro deste ano na revista Scientific Reports e reforçam a importância da atividade física na prevenção e no tratamento da hipertensão.
O estudo
É mais divulgado que os exercícios aeróbios têm potencial para auxiliar no combate à pressão alta. O estudo analisa outros que mostram que os exercícios de força também são um medicamento eficaz para a condição. Sob a coordenação da professora do Departamento de Educação Física da Unesp de Presidente Prudente/SP, Giovana Rampazzo Teixeira, os alunos conduziram uma revisão sistemática da literatura científica sobre o tema com uma meta-análise (tipo de estudo considerado padrão-ouro em nível de evidência) para verificar a intensidade, o volume e a duração do treinamento que garantiriam os melhores resultados.
Com uma amostragem de 253 participantes, com média de idade de 59 anos, foi realizada a análise com base em uma série de ensaios controlados que avaliou o efeito do treinamento por oito semanas ou mais.
“A prevenção continua sendo um bom caminho, contudo, encontramos resultados robustos que o exercício físico de força pode ser utilizado como uma terapia não farmacológica para reduzir a pressão arterial. E nesse caminho, nossos resultados apontam a dose necessária para alcançar esse objetivo”, comenta a professora Giovana Rampazzo Teixeira, explicando qual seria essa dose:
Exercícios de musculação com carga moderada a vigorosa, dois ou três dias na semana, a partir de oito semanas, são eficientes em reduzir os valores de pressão arterial em indivíduos hipertensos;
Nessa dose, houve uma redução de 10 mmHg sistólico e 4,79 mmHg diastólico em oito semanas do treinamento de força.
A docente acrescenta que o potencial terapêutico do exercício físico ao longo do tempo inclui modificação da frequência cardíaca, aumento do diâmetro dos vasos sanguíneos (vasodilatação), redução da resistência periférica, aumento da produção de óxido nítrico (um mediador importante no relaxamento dos vasos), melhoria da eficiência cardíaca e aumento do volume máximo de oxigênio (VO2máx).
As doenças cardiovasculares são a principal causa global de morte, com a hipertensão arterial respondendo por quase 14% delas. A condição é considerada perigosa quando os níveis ficam acima de 140 milímetros de mercúrio (mmHg) de pressão arterial sistólica e acima de 90 mmHg de pressão diastólica. A enfermidade tem múltiplos fatores, sendo desencadeada por hábitos como sedentarismo, má alimentação, consumo de álcool e tabaco.
Resultados efetivos a partir da vigésima sessão de musculação
O estudo mostrou ainda que resultados efetivos eram observados por volta da vigésima sessão de treinamento e os efeitos hipotensivos benéficos duravam até 14 semanas, mesmo quando os exercícios eram interrompidos. E mais: que indivíduos que realizaram os exercícios com intensidade de carga moderada a vigorosa conseguiram os melhores resultados.
“Na prática clínica ou até no dia a dia das academias, os profissionais que se depararem com pessoas hipertensas poderão usar o treinamento de força como tratamento não farmacológico para hipertensão arterial, sabendo quais são as variáveis necessárias para que isso seja alcançado e sempre levando em consideração os objetivos individuais”, explica a pesquisadora.
Contudo, ela ressalta que novos estudos devem ser conduzidos para explicar por quais vias moleculares essas mudanças ocorrem e quais os impactos da hipertensão arterial e do treinamento de força nos tecidos periféricos.
“Este estudo é uma revisão sistemática com metanálise, onde sumarizamos a literatura disponível sobre os objetivos previamente definidos. Utilizamos estudos clínicos randomizados que usaram o treinamento de força como tratamento para a hipertensão arterial em indivíduos hipertensos. Além dos resultados já citados, identificamos que indivíduos com menos de 59 anos obtiveram redução mais expressiva da pressão arterial durante o período de treinamento físico. Além disso, indivíduos com idade entre 60 e 79 anos apresentaram menor efeito, mas com diferença significativa. Desta forma, salientamos que mesmos os mais idosos podem ser beneficiados pelo treinamento de força”, garante a professora da Unesp.
A pesquisa contou com a colaboração de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
Giovana Rampazzo Teixeira é professora assistente do Departamento de Educação Física da Faculdade de Ciências e Tecnologia, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Presidente Prudente, com mestrado e doutorado pelo Programa de Biologia Geral e Aplicada na Unesp – Campus de Botucatu, e com pós-doutorado Institute For Lasers, Photonics and Biophotonics, na University Buffalo, em Nova York, nos Estados Unidos.