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Estudo mostra que hipertensão pode afetar a qualidade do sêmen desde a juventude (20 notícias)

Publicado em 31 de março de 2025

A hipertensão arterial, mais conhecida como pressão alta, pode impactar a saúde reprodutiva masculina de forma mais precoce e persistente do que se imaginava.

Um estudo conduzido pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP) revelou que os efeitos da hipertensão no sêmen começam ainda na juventude e podem ser irreversíveis, afetando a qualidade do esperma e prejudicando a função reprodutiva ao longo da vida.

O estudo, coordenado pelo professor Stephen Rodrigues, analisou os impactos da pressão alta em ratos (modelo Spontaneously Hypertensive Rats, ou SHRs), que desenvolvem hipertensão de forma espontânea, em diferentes idades. O resultado apontou que os danos causados pela pressão elevada não se restringem à idade adulta, mas começam a se manifestar desde a juventude, afetando principalmente a concentração dos espermatozoides e a estrutura chamada acrossoma, fundamental para que o espermatozoide consiga penetrar no óvulo.

Hipertensão e seus efeitos duradouros na saúde reprodutiva

Segundo o estudo, realizado em várias faixas etárias dos ratos, os danos à saúde reprodutiva se acumulam com o tempo. “Observamos que mesmo períodos curtos de exposição a níveis elevados de pressão arterial já podem causar efeitos irreversíveis”, afirmou o professor Rodrigues. Esses efeitos são notáveis principalmente no sêmen, com a diminuição de espermatozoides e o comprometimento do acrossoma, estrutura crucial para a fertilização.

O estudo foi publicado na revista Scientific Reports , com a mestranda Nicolle Machado como primeira autora. O trabalho contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), por meio de três projetos de pesquisa distintos. As descobertas colocam em evidência a relação entre a hipertensão arterial e a qualidade do sêmen, que pode trazer sérias implicações para a fertilidade masculina.

Medicamentos anti-hipertensivos

O estudo também investigou como diferentes medicamentos usados no tratamento da hipertensão arterial poderiam influenciar a qualidade do sêmen. Os pesquisadores testaram fármacos amplamente utilizados na clínica, como a losartana e a prazosina, para entender se esses medicamentos poderiam reverter ou minimizar os danos causados pela pressão alta.

A losartana, que é uma medicação comum no controle da hipertensão, conseguiu reduzir a pressão arterial nos ratos, mas não teve efeito significativo na melhoria da qualidade do sêmen. Em contraste, a prazosina, um antagonista do receptor alfa-adrenérgico, não apenas reduziu a pressão arterial, mas também foi capaz de corrigir parcialmente os danos observados no sêmen. Este achado sugere que, para proteger a saúde reprodutiva, pode ser necessário mais do que simplesmente controlar a pressão arterial; a combinação de tratamentos que cuidam da saúde cardiovascular e preservam a função reprodutiva seria mais eficaz.

“Este estudo indica que precisamos ir além da simples redução da pressão arterial. A combinação de medicamentos que atuam na proteção da saúde cardiovascular e reprodutiva pode ser um caminho mais promissor para a preservação da fertilidade masculina”, afirmou o professor Rodrigues.

Intervenções não farmacológicas

Além dos tratamentos farmacológicos, o grupo de pesquisa também planeja investigar a possibilidade de intervenções não farmacológicas, como o exercício físico, para melhorar a qualidade do sêmen e preservar a microcirculação testicular. A atividade física tem sido amplamente associada à melhora da saúde cardiovascular e ao aumento da fertilidade, e a equipe do ICB-USP busca compreender se o exercício pode trazer benefícios semelhantes aos dos medicamentos no contexto da saúde reprodutiva masculina.

“O objetivo é verificar se intervenções como o exercício físico podem oferecer benefícios naturais na melhora da saúde reprodutiva, sem a necessidade de medicamentos”, explicou o professor Rodrigues. Esse tipo de pesquisa é fundamental, considerando que muitas pessoas buscam alternativas naturais ou complementares para o tratamento de condições de saúde, incluindo questões relacionadas à fertilidade.

O impacto global da hipertensão e a redução da qualidade do sêmen

Este estudo coloca em destaque uma preocupação crescente sobre a saúde reprodutiva masculina em todo o mundo. Dados alarmantes apontam que, nos últimos 50 anos, houve uma queda de cerca de 50% na concentração de espermatozoides no sêmen, tanto em homens hipertensos quanto em indivíduos sem pressão alta. A causa desse fenômeno ainda não é completamente compreendida, e os pesquisadores alertam para a necessidade de mais estudos para entender as implicações desse declínio para a fertilidade humana.

“É uma questão que precisa ser mais investigada, especialmente porque, em um futuro não muito distante, isso pode começar a afetar a reprodução humana em larga escala”, alertou Rodrigues. O estudo sobre hipertensão e saúde reprodutiva, portanto, é um passo importante para entender os efeitos a longo prazo da pressão arterial elevada na fertilidade masculina e buscar soluções eficazes para a preservação da saúde reprodutiva.

Por Malu Lopes