Durante a chamada era pré-colombiana, a Amazônia era habitada por sociedades densas e complexas em toda a sua vasta área florestal que se estendia por 6,7 milhões de km².
A conclusão é de um estudo de detecção e alcance de luz aérea com o isso de uma tecnologia avançada de mapeamento remoto, um laser embarcado em avião, conhecido como LiDAR (Light Detection and Ranging), uma técnica de sensoriamento remoto que pode mapear a microtopografia abaixo da copa da floresta, assinado por uma equipe de 230 cientistas de 156 instituições funcionando em 24 países dos quatro continentes.
No estudo, publicado na revista científica Sciense, os pesquisadores afirmam que os dados mudaram a compreensão da magnitude do urbanismo pré-colombiano na Mesoamérica. Agora, eles estimam que a Amazônia pode abrigar mais de 10.000 registros de obras pré-colombianas (construídas antes da chegada dos europeus) e que restariam mais de 23.648 sítios a serem descobertos, a maioria no sudoeste da região.
Dentre os pesquisadores, 33 compõem o quadro de pesquisadores, entre alunos e doutores, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI). A pesquisa foi liderada pelos cientistas Vinicius Peripato e Luiz Aragão do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCTI).
Foram identificadas ainda 53 espécies de árvores domesticadas e associadas à probabilidade de ocorrência de terraplenagem, provavelmente sugerindo práticas de manejo anteriores.
De acordo com os pesquisadores, essas antigas sociedades indígenas tinham profundo conhecimento de movimentação de terras, dinâmica ribeirinha, enriquecimento do solo e ecologia vegetal e animal, o que lhes permitiu criar paisagens domesticadas que eram mais produtivas para os humanos.
Com o uso de técnicas de terraplenagem, os povos indígenas criaram uma grande variedade de terraplenagens (ou seja, valas circulares, geoglifos, lagoas e poços), principalmente entre 1.500 e 500 anos antes do presente, com funções sociais, cerimoniais e defensivas. Além disso, geriram centenas de espécies de árvores, algumas das quais apresentam evidências de domesticação e efetuaram mudanças duradouras na composição da floresta.
As estruturas encontradas recentemente, debaixo da floresta intacta, são muito regiões da Amazônia como as terras pretas de índio e a presença de espécies domesticadas, entre outras evidências.
As paisagens domesticadas na Amazônia foram descobertas principalmente por meio de evidências de pesquisas locais feitas com satélites ópticos orbitais que usam resolução espacial muito alta.
A varredura de 5.315 km 2 de dados LIDAR revelou 24 terraplenagens não relatadas no sul, sudoeste, centro e norte (Escudo das Guianas) da Amazônia. Foi detectada, por exemplo, em uma vila fortificada no sul da Amazônia, locais defensivos e cerimoniais no sudoeste da região, montanhas coroadas e estruturas megalíticas no Escudo das Guianas, e locais ribeirinhos em planícies aluviais na Amazônia central.
No sul foi encontrada uma antiga cidade-praça localizada na Bacia do Alto Xingu, uma região conhecida por ter sustentado populações densas no passado, distribuídas por aldeias-praças interligadas por redes rodoviárias e rodeadas por paisagens domesticadas com uma gama diversificada de recursos terrestres e aquáticos.
Pelas estimativas feitas, os trabalhos de terraplanagem já documentados na Amazônia até esses dias representam apenas 4 a 9% do total, e que 91 a 96% dos trabalhos de terraplenagem na região permanecem a ser descobertos.
O artigo assinado pelos cientistas pode ser acessado pelo link: https://www.science.org/doi/10.1126/science.ade2541.
Por Ana Celia Ossame, especial para Portal do Holanda