Modelo de computador feito por brasileiros mostra que mutação na proteína spike dá maior força de interação entre vírus e célula
Com uso de softwares de computador gratuitos, pesquisadores brasileiros das faculdades de Medicina e Odontologia da Universidade de São Paulo (USP), apoiados pela Fapesp, conseguiram identificar um dos fatores que torna a variante britânica do coronavírus mais contagiosa.
De acordo com o estudo, publicado ainda em pré-print, ou seja, sem revisão da comunidade científica, a mutação na proteína spike é responsável por uma força de interação molecular maior com o receptor ACE2 (a substância fica na superfície das células humanas e se liga à proteína do coronavírus, permitindo que o invasor entre na célula e se multiplique) do que as primeiras cepas.
“Existem outras mutações no genoma dessa linhagem que não analisamos. Focamos na N501Y porque ela está implicada na ligação da proteína spike com o ACE2”, explica Geraldo Alexo Passos, coordenador do estudo, à Agência Fapesp.
Para testar a hipótese que o vírus contamina mais do que as primeiras versões do micro-organismo pela força de interação, os pesquisadores usaram um banco de dados de proteínas e dois softwares de domínio público para fazer um modelo computacional que permita visualizar a interação entre o coronavírus e as células.
Esta variante promove mais interações com o receptor ACE2 e, apesar de serem mais fracas, juntas, formam ligações mais fortes, permitindo que o vírus entre na célula com mais facilidade e comece a se replicar.
O estudo foi feito apenas em simulação de computador, mas pode servir para orientar pesquisas in vitro, em laboratório, com células de cultura humanas.