Por Ana Celia Ossame, especial para Portal do Holanda O aumento 264% vezes de suicídios no Brasil por uso de remédios no período de 20 anos no Brasil, com a região Norte aparecendo com apenas 3,7% desse total e a liderança da região Sul com 22,8%, aponta para a necessidade de implantação de um serviço de verificação desses óbitos e ampliação da rede de atendimento de saúde mental na região.
A afirmação é do epidemiologista Jesem Orellana, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), um dos autores do estudo publicado estudo publicado em julho na revista Frontiers in Public Health e divulgado pela Revista da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (FAPESP).
O tema é destacado nesse mês de setembro que, desde 2003, por iniciativa de algumas entidades e a sociedade civil organizada, é dedicado à prevenção do suicídio.
De acordo com Orellana, mesmo com todo o drama gerado no período da pandemia, o Estado do Amazonas ainda não tem um Serviço de Verificação de Óbito, fato que ele considera uma vergonha.
“Como a amostra que temos dos dados no Norte é relativamente pequena, não foi possível fazer uma análise aprofundada por região, especialmente no Norte onde a notificação deste tipo de morte é muito ruim”, disse o pesquisador.
O estudo, desenvolvido pelo Laboratório de Modelagem em Estatística, Geoprocessamento e Epidemiologia (Legepi) da Fiocruz Amazônia, reuniu além de Jesem os pesquisadores Maximiliano Loiola Ponte e Souza, Francimar Oliveira de Jesus e Bernardo Lessa Horta.
Foram utilizados dados do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde para caracterizar as mortes por suicídio com remédios em pessoas com 10 anos ou mais nessas duas décadas.
Em 2003 houve 253 casos registrados desse tipo de mortes, passando para 922 casos em 2022. Nesse mesmo período, os suicídios provocados por todos os meios passaram de 7.861 casos para 16.462 – cresceram uma vez. As mortes por auto envenenamento com remédios, que representavam 3,2% dos suicídios no início da década passada, hoje correspondem a 5,6%.
No artigo, Jesem afirma que o aumento nas mortes por consumo intencional de medicamentos pode indicar uma mudança nos métodos de suicídio no país.
Para ele, esse dado é preocupante do ponto de vista da saúde pública e de controle de medicamentos, especialmente aqui em Manaus, onde se vê pessoas vendendo medicamentos nas ruas, inclusive os de uso controlado.
As mulheres são a maioria das pessoas que tiram a própria vida usando medicamentos é peculiar, com 55% dos casos, indivíduos solteiros (52%) e que se autodeclaram brancos (53,2%).
Os óbitos se concentram na região Sudeste (41,7%), embora uma proporção importante também ocorra nos estados do Sul (22,8%) e do Nordeste (21,6%). Duas em cada três mortes ocorrem em estabelecimentos de saúde, o que talvez seja explicado pelo fato de o método não causar óbito instantâneo. A Região Norte aparece com 3,7%.
Os pesquisadores lembram estudos anteriores indicando que, de modo geral, quem comete suicídio é homem. Nas Américas, que seguem uma tendência de aumento de mortes autoinfligidas, contrária à do resto do mundo, três homens se matam para cada mulher que tira a própria vida.
Entre as principais razões que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), levam a cada ano cerca de 700 mil pessoas a tirar a própria vida no mundo, estão problemas de saúde mental, em especial à depressão e ao abuso de álcool. Mas momentos de crise por experimentarem uma perda importante, terminarem um relacionamento, sentirem-se sozinhas ou serem vítimas de abuso e violências, além de problemas financeiros também levam as pessoas a cometerem esse ato.
Mesmo com a adoção o setembro como o mês dedicado à prevenção do suicídio, os especialistas cobram a elaboração de um plano nacional de prevenção ao suicídio, que tenha dotação orçamentárias específicas, pesquisas regionais e estratégias para diferentes realidades regionais do País.
Os pesquisadores alertam que, para trabalhar o sofrimento mental, é importante colocar à disposição da população uma rede de saúde mental especializada, como os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) que funcione efetivamente,
O Centro de Valorização da Vida (CVV) por meio do telefone 188 oferece um serviço voluntário, sigiloso e gratuito para prevenção ao suicídio, mantido por uma associação sem fins lucrativos.
Se você já teve ou está tendo pensamentos de tirar a própria vida, procure um serviço de saúde mental ou acesse um dos canais do CVV.