Os Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs), também conhecidos como vape ou cigarros eletrônicos, alteram a composição da saliva dos usuários e aumentam o risco de doenças bucais, segundo estudo realizado no Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (ICT-Unesp) e apoiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). A pesquisa constatou baixa viscosidade da saliva dos fumantes, prejudicando na proteção e hidratação da mucosa bucal.
Feito em colaboração com cientistas das universidades de São Paulo (USP) e de Santiago de Compostela, na Espanha, o estudo observou outras peculiaridades entre os consumidores de cigarros eletrônicos. Por exemplo, o baixo fluxo salivar, que pode aumentar casos de lesões como a cárie.
Para chegar a esses dados, os pesquisadores selecionaram 50 jovens sem alterações clínicas visíveis na mucosa oral, com média de idade entre 26 e 27 anos. Entre eles, 25 eram usuários regulares e exclusivos de cigarros eletrônicos, há pelo menos seis meses, e os outros 25 não usavam o dispositivo.
“A saliva é um protetor muito importante. E nós podemos avaliar muitos parâmetros relacionados a várias doenças por meio da saliva. Além disso, a coleta da amostra é um procedimento simples, não invasivo e de baixo custo. Assim, essa é uma técnica promissora para a identificação de biomarcadores salivares que possam indicar início de problemas”, disse Janete Dias Almeida à Agência Fapesp. Ela é professora titular do Departamento de Biociências e Diagnóstico Bucal da Unesp e coordenadora do estudo.
Malefícios associados ao vape
Fora o esse trabalho da Unesp, diversos estudos recentes apontam para os riscos à saúde associados ao uso dos cigarros eletrônicos. Em fevereiro de 2024, a Sociedade Brasileira de Cardiologia se posicionou contra o consumo desses dispositivos, em relatório chamado “10 Razões para manter a proibição dos DEFs”.
Entre os tópicos, o documento cita pesquisas que indicam uma relação direta entre o uso de cigarros eletrônicos e o incremento no risco cardiovascular. O relatório destaca o vínculo da presença de nicotina nesses dispositivos com o aumento da frequência cardíaca, elevação da pressão arterial e intensificação do estresse oxidativo.
Consumo de cigarro eletrônico no Brasil
Os cigarros eletrônicos são proibidos no Brasil desde 2009, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Desse modo, é ilegal a comercialização, fabricação, importação, transporte, armazenamento e propaganda de todos os DEFs.
No ano passado, a agência atualizou a regulação de cigarro eletrônico, mantendo a proibição. Afinal, os cinco diretores da Anvisa votaram para continuar a vedação no país. No entanto, a medida não impede o crescimento de usuários.
A quantidade de brasileiros consumidores regulares de cigarros eletrônicos cresceu nos últimos anos, com quase 3 milhões de usuários em 2023, conforme levantamento do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica). No ano anterior, a mesma pesquisa mapeou cerca de 2,2 milhões de consumidores ativos.