Notícia

Jornal de Piracicaba

Estudo mostra como o exercício físico induz a queima de gordura (33 notícias)

Publicado em 23 de outubro de 2022

Por Da Redação

Estudo publicado na revista Science Advances descreveu, pela primeira vez, um circuito neuromuscular que liga a queima de gordura no músculo à ação de uma proteína no cérebro. Os resultados, obtidos por pesquisadores da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e da USP (Universidade de São Paulo), ajudam a entender como a prática de exercício físico ajuda na perda de peso e reforçam a importância desse hábito para a saúde.

“O trabalho teve como objetivo estudar a ação de uma proteína chamada interleucina 6 [IL-6], que tem característica inflamatória, mas que em algumas situações, como a de exercício físico, assume funções diferentes. Nesse caso, a queima de gordura no músculo”, explica Eduardo Ropelle, professor da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp, em Limeira, que coordenou o estudo. O grupo liderado pelo pesquisador já havia observado que camundongos que tinham a proteína injetada diretamente no cérebro começavam imediatamente um processo de oxidação da gordura no músculo da pata. Essa parte do estudo foi realizada durante o mestrado de Thayana Micheletti, bolsista da Fapesp. Estudos prévios indicavam que uma parte específica do hipotálamo poderia alterar o metabolismo muscular quando estimulada.

Ao detectar a presença do receptor de IL-6 naquela parte do cérebro, pesquisadores brasileiros chegaram, então, à hipótese de que a ação da proteína produzida ali poderia desencadear um circuito neuromuscular, favorecendo a queima de gordura no tecido musculoesquelético. Em um experimento, Katashima e os colegas fi zeram um corte no nervo ciático, que liga a coluna vertebral ao músculo da coxa, em apenas uma das patas de camundongos. Quando a IL-6 foi injetada no cérebro, a queima de gordura ocorreu como esperado na pata íntegra, mas não na que tinha tido sofrido o corte do nervo. “O experimento mostrou, portanto, que a queima de gordura muscular só ocorre graças à ligação nervosa entre o hipotálamo e o músculo”, conta Katashima.

RECEPTORES BLOQUEADORES

Restava aos pesquisadores descobrir como era feita essa ligação entre sistema nervoso e muscular. Para isso, administraram nos camundongos drogas que bloqueiam os chamados receptores alfa e beta adrenérgicos, neste caso responsáveis por receber o sinal nervoso para que o músculo possa desempenhar a função determinada pelo cérebro. Enquanto o bloqueio dos receptores beta não surtiu tanto efeito, o “desligamento” dos receptores alfa adrenérgicos fez com que a oxidação da gordura no músculo fosse bastante reduzida ou nem sequer ocorresse.

“Uma descoberta importante desse estudo foi ter associado esse circuito neuromuscular ao chamado afterburn, que é a queima de gordura que acontece depois que paramos de fazer exercício.

Isso já foi dado como secundário, mas, na verdade, pode durar horas e deve ser considerado de fundamental importância no processo de perda de peso”, aponta Ropelle. “Mostramos que o exercício físico, além de produzir IL6 no músculo, como já se sabia, também aumenta o conteúdo dessa proteína no hipotálamo. Portanto, os efeitos provavelmente são muito mais duradouros do que apenas durante a atividade em si. Isso mostra mais uma vez a importância do exercício físico numa intervenção contra a obesidade”, encerra Katashima.