Um estudo organizado pela Universidade de São Paulo (USP) aponta para a alta prevalência de casos de reducação da capacidade cognitiva e transtornos psiquiátricos em pacientes recuperados da covid-19. A pesquisa, divulgada na revista General Hospital Psychiatry, contou com a avaliação de 425 pacientes no Hospital das Clínicas, na capital paulista, por meio de entrevistas e questionários padronizados.
De acordo com os dados, mais da metade (51,1%) dos participantes relatou ter percebido o declínio da memória após a infecção e outros 13,6% desenvolveram transtorno de estresse pós-traumático. O transtorno de ansiedade generalizada foi diagnosticado em 15,5% dos voluntários, sendo que em 8,14% deles o problema surgiu após a doença. Já o diagnóstico de depressão foi estabelecido para 8% dos pacientes - em 2,5% deles somente após a internação.
"Observamos bastante perda cognitiva. Em um teste que mede a velocidade de processamento, por exemplo, os pacientes demoravam em média duas vezes mais do que o esperado para a idade [com base em valores médios descritos na literatura científica para a população brasileira]. E isso foi observado para todas as idades", disse Rodolfo Damiano, médico residente do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina (FM-USP) e primeiro autor do artigo, à Agência FAPESP.
Ele observou, ainda, que a taxa de sintomas depressivos, irritabilidade, fadiga e insônia no grupo estudado (32,2%) foi maior do que a relatada para a população geral brasileira (26,8%) em estudos epidemiológicos. Nesses pacientes, a prevalência de transtorno de ansiedade generalizada foi consideravelmente superior à média dos brasileiros (9,9%), bem como a prevalência de depressão encontrada (entre 4% e 5%).