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O Imparcial (Presidente Prudente, SP)

Estudo investiga utilização de planta no combate ao câncer

Publicado em 03 agosto 2003

Por MARIA TERESA COSTA - Agência Unicamp
A cultura popular há muito utiliza a planta conhecida como quebra-pedra para auxiliar na eliminação de cálculos dos rins e bexiga. A ciência já confirmou que, de fato, a Phyllanthus niruri, nome científico dessa planta considerada uma erva daninha, tem essa capacidade embora não funcione exatamente como prega a crença popular. Ela não quebra as pedras e sim evita que elas se formem e ajuda a expeli-las. Agora, estudos que vêm sendo desenvolvidos no Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA) da Unicamp estão mostrando que substâncias existentes em uma espécie de quebra-pedra, a Phyllanthus amarus, têm também importantes atividades contra o câncer e contra inflamações. Embora muitos estudos e testes ainda precisem ser realizados, o grupo está animado com os resultados iniciais. "Estamos muito animados com as possibilidades de desenvolvermos uma droga que possa ser utilizada no tratamento do câncer, a partir de substâncias dessa planta brasileira", diz a química Vera Lúcia Garcia Rehder. Ela integra o grupo formado ainda pelos agrônomos Pedro Melillo de Magalhães e Glyn Mara Figueira e pelo farmacólogo João Ernesto de Carvalho, que está trabalhando na definição dos princípios ativos de interesse, no aumento das concentrações dessas substâncias na planta e na avaliação farmacológica, a partir de testes in vitro. São dois estudos paralelos, financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Em um deles, extratos brutos da planta foram testados em células de câncer de mama, em câncer de mama resistente, melanoma, rim, próstata, pulmão, cólon, leucemia e ovário, nos laboratórios do CPQBA. Em outro, numa parceria com o professor João Batista Calixto, pesquisador do Departamento de Farmacologia da Universidade Federal de Santa Catarina, estão sendo avaliadas as possibilidades de uso do quebra-pedra no tratamento de processos inflamatórios e de dor. "Temos resultados bastante interessantes", diz Vera. O grupo de Calixto já pesquisou mais de uma dezena de espécies medicinais diferentes do popular quebra-pedra, encontrando nelas substâncias analgésicas e antiespasmódicas. O pesquisador João Ernesto de Carvalho, coordenador da Divisão de Farmacologia e Toxicologia do CPQBA, que vem fazendo os testes dos extratos de quebra-pedra em células tumorais, quer encontrar as substâncias que atuam, de forma seletiva, sobre essas células. Por enquanto, diz, foram testados extratos brutos, frações e algumas substâncias isoladas. Todos eles tiveram atividade tanto citostática como citocida, ou seja, provocaram a inibição do crescimento celular, como a morte celular. "Agora precisamos ver a especificidade", explica. As plantas que estão sendo testadas foram selecionadas de 14 diferentes localidades, inclusive do exterior, porque varia muito a composição química da planta em relação ao local onde é cultivada. De 14 foram selecionados seis, que estão sendo trabalhadas nesse projeto. Dessas plantas foram isoladas cinco substâncias da classe das lignanas, determinadas suas estruturas e comparadas com a literatura que já existe sobre elas. Enquanto os testes são feitos in vitro, Vera Rehder está realizando o monitoramento químico da planta e quantificando as substâncias existentes. Se um extrato apresenta atividade, ele é fracionado e enviado novamente para testes com as células escolhidas. Assim, a partir das frações que se mostram mais ativas, consegue-se chegar às substâncias que agem para a inibição do crescimento celular ou para sua morte. A pesquisadora explica que os testes com as células tumorais estão mostrando que essas lignanas têm atividade bastante pronunciada. Mas a atividade antiinflamatória e analgésica está sendo verificada principalmente nas frações isentas de lignanas. As substâncias presentes nestas frações estão sendo isoladas para identificação de suas estruturas. A busca é por uma substância que mate uma das linhagens de células tumorais testadas e não todas. "Se ela matar todas é porque não tem seletividade. E se não tiver seletividade significa que pode matar inclusive células normais", observa. Interessa, em se tratando de desenvolvimentos de drogas, encontrar substâncias que sejam bastante específicas. Cinco lignanas e duas substâncias com estruturas ainda não determinadas foram isoladas. Contribuições - O grupo do CPQBA já tem tradição na investigação de atividades de interesse em plantas do Brasil. A proposta é avaliar a atividade farmacológica de produtos naturais e de princípios ativos em modelos experimentais de câncer, úlcera gástrica e inflamação. "A descoberta de novas substâncias químicas com atividade farmacológica é a principal contribuição que o grupo pode oferecer", afirma João Ernesto de Carvalho. Especificamente na área de câncer, os esforços estão sendo dirigidos no sentido de caracterizar o grupo como uma das referências nacionais na pesquisa de novas drogas contra a doença. A metodologia implantada, utilizando o cultivo de células tumorais humanas, foi introduzida, com a colaboração do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, e tem permitido a participação do grupo em projetos, não só do CPQBA como também de outros grupos da própria Unicamp e de outras instituições de pesquisa do País.