Pesquisadores brasileiros investigam os efeitos do ômega 3 em reduzir a inflamação associada à covid-19. A ideia é que os ácidos graxos possam ser mais um aliado no combate ao coronavírus SARS-CoV-2, principalmente em casos onde há descontrole do processo inflamatório e o organismo passa a atacar si próprio. Por enquanto, os pesquisadores buscam evidências dos possíveis benefícios, incluindo a suplementação.
O estudo é liderado por cientistas do Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC). Este é um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP, sediado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP). Além disso, a pesquisa conta com a parceria da Vanderbilt University, nos Estados Unidos.
Pesquisa avalia a concentração de ômega 3 no sangue de pacientes internados com a covid-19 (Imagem: Reprodução/Halfpoint/Envato) Metodologia do estudo
No estudo, os pesquisadores coletaram amostras de sangue de 180 pacientes do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (HC/FM) da USP, no momento da internação em decorrência da covid-19. As amostras são, agora, analisadas a partir da quantidade de ômega 3 e ômega 6 e, posteriormente, serão comparadas com a evolução do quadro dos pacientes.
A hipótese — teoria que precisa ser confirmada — da equipe de cientistas é que pacientes com mais ômega 3 teriam um melhor prognóstico devido à redução da inflamação. Em outras palavras, o provável desenvolvimento da doença deveria ser melhor do que naquelas que apresentavam baixas concentrações de ômega 3. No entanto, ainda é necessária a confirmação.
“Nós utilizamos uma técnica muito sensível e identificamos uma diferença na relação ômega 3 e ômega 6 nos pacientes. Agora, aguardamos os últimos resultados de nossos parceiros para confirmar a hipótese”, afirmou Inar Castro, pesquisadora e professora da FCF-USP.
Relação com a inflamação Ômega 3 pode ser aliado no combate à covid-19, segundo pesquisadores (Imagem: Reprodução/Leohoho/Unsplash)
De acordo com Castro, durante uma infecção viral, a presença do RNA do vírus nas células faz com que o fator de transcrição NF-kB migre do citoplasma para o núcleo. No novo local, esse fator de transcrição promove a expressão de genes que codificam citocinas pró-inflamatórias. Isso desencadeia a ativação de enzimas que levam à produção de mais citocinas, o que aumenta a inflamação.
“Trata-se de um processo natural do sistema imune para atrair as células que combatem o patógeno para o local da infecção. No entanto, quando essa inflamação ocorre de forma exagerada, pode prejudicar o paciente”, explica a professora. "Quando há uma maior concentração de ômega 3 nas membranas, ele é capaz de reduzir a síntese de prostaglandinas da série 2 e, consequentemente, reduzir a inflamação”, completa.
Caso a relação entre o ômega 3 e a redução do processo inflamatório causado pela covid-19 seja confirmada, novos estudos — no caso, ensaios clínicos — deverão analisar a eficácia e a segurança da suplementação em si para os pacientes. Inclusive, será preciso entender se esta deve ser feita nos primeiros dias da infecção ou apenas em momentos de internação, por exemplo.
Fonte: Agência Fapesp