Um estudo publicado no American Journal of Preventive Medicine revelou que o consumo de alimentos ultraprocessados (AUP) está associado a um aumento significativo no risco de morte precoce. A pesquisa analisou dados de mortalidade e consumo alimentar de oito países: Estados Unidos, Inglaterra, Brasil, Colômbia, Chile, Canadá, México e Austrália.
De acordo com os autores, cada aumento de 10% na ingestão de alimentos ultraprocessados — como pães industrializados, bolos, refeições prontas e cereais matinais — eleva em 3% o risco de morte antes dos 75 anos. A estimativa é de que 14% das mortes prematuras na Inglaterra estejam relacionadas ao consumo excessivo desses produtos, a maior proporção entre os países analisados.
No total, os AUP foram associados a 124.107 mortes precoces por ano nos Estados Unidos e a 17.781 mortes anuais na Inglaterra. Nos demais países, os percentuais de óbitos prematuros atribuídos ao consumo desses alimentos foram: 13,7% nos EUA, 10,9% no Canadá, 6% no Chile, 5% no Brasil, 4% na Colômbia. A taxa de mortalidade é maior nos países em que os AUP representam uma parcela elevada da ingestão calórica total.
Segundo dados do National Diet and Nutrition Survey (2018–2019), na Inglaterra os alimentos ultraprocessados compõem 53,4% da energia consumida pela população. Nos Estados Unidos, esse número chega a 54,5%.
O estudo foi liderado por Eduardo Augusto Fernandes Nilson, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Brasil. Os pesquisadores destacam que os riscos à saúde não se limitam ao alto teor de gordura, sal e açúcar presente nesses produtos, mas também aos efeitos de aditivos artificiais como corantes, aromatizantes, emulsificantes e edulcorantes.
Os autores defendem a adoção de medidas mais rigorosas por parte dos governos, como a regulamentação da publicidade e venda desses produtos em ambientes escolares e de trabalho, além da aplicação de tributos para desestimular o consumo.
Embora o estudo estabeleça uma associação estatística e não causalidade direta, os resultados reforçam um corpo crescente de evidências sobre os impactos negativos dos AUP na saúde pública global.