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Diário Oficial do Estado de São Paulo

Estudo inédito revela que uso de laser reduz gordura no fígado

Publicado em 28 fevereiro 2018

Pesquisa do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP revela que o uso de laser infravermelho, associado à prática de exercícios físicos e à educação nutricional ajuda na redução de 80% a 90% do nível de esteatose hepática não alcoólica – acúmulo de gordura no fígado. “Esse é o primeiro estudo científico que avalia o infravermelho e seu impacto na diminuição das enzimas hepáticas chamadas TGP, TGO e GGT, responsáveis pelo metabolismo de várias ações do fígado”, informa o pós-doutorando em Física e Ciências Materiais do IFSC, Antonio Eduardo de Aquino Junior, um dos autores do estudo.

Ele diz que a motivação para a pesquisa, iniciada há três anos, foi o aumento crescente de sobrepeso e obesidade no País. “De acordo com o Ministério da Saúde, metade dos brasileiros está com sobrepeso e obesidade, o que aumenta a chance de desenvolver gordura no fígado”, alerta.

A diminuição das enzimas hepá­ticas foi constatada por pesquisadores do Grupo de Óptica do IFSC da USP durante um estudo que com 20 voluntários obesos do sexo masculino, com idades entre 20 e 40 anos. Se uma pessoa ingere mais calorias do que pode gastar, elas são armazenadas dentro de células de gordura do organismo. No entanto, quando a quantidade de caloria extra ultrapassa o limite celular, o excesso se concentra no fígado, em forma de triglicerídeos (citotoxicidade). Quando o órgão armazena triglicerídeos em excesso, surge a esteatose hepática não alcoólica, complicação que pode levar ao câncer.

Aplicação indolor – Aquino Junior conta que há dez anos pesquisadores do Grupo de Óptica do IFSC da USP avaliam os benefícios do infravermelho aliado ao exercí­cio físico entre as mulheres. “Nesses estudos anteriores, observamos que as mulheres que receberam as sessões do laser emagreceram de 30% a 40% mais rápido do que aquelas que apenas se exercitaram. Nos últimos três anos, nossa meta foi observar o impacto do exercício físico associado à dieta alimentar e aplicação de laser infravermelho em relação à gordura no fígado”, esclarece. Todos os voluntários participantes do estudo atual receberam informações nutricionais e a ingestão de bebidas foi evitada. Durante dois meses, três vezes por semana, dez voluntários realizaram uma hora de exercícios aeróbicos e resistidos (musculação) e, em seguida, dez minutos de aplicação indolor de luz instalada em placas com emissores de laser no abdômen, quadríceps, glúteos e bíceps, estimulando o gasto de energia acumulada. Outros dez voluntários não receberam a aplicação da terapia com luz.

“Observamos que o grupo do laser apresentou de 80% a 90% de redução das enzimas do fígado, o que significa redução de peso, de gordura abdominal e de gordura no fígado”, salienta o pesquisador. Entre os voluntários do grupo controle, a redução de enzimas do fígado não ultrapassou 4%. Na sua avaliação, esse resultado é novo conhecimento para a comunidade científica. Hoje, a análise de esteatose hepática não alcoólica é feita por meio de exame de sangue ou ultrassom.

Outros benefícios – Além da gordura visceral, os pesquisadores notaram que a nova terapia também resultou na diminuição do peso corporal, gordura total do corpo, colesterol, lipoproteína de baixa densidade (LDL) e triglicerídeos. “As conclusões de nosso trabalho representam um pontapé inicial para a possibilidade de tratamento de gordura no fígado sem a necessidade de remédio, alternativa muito vantajosa à população. No entanto, muitos estudos ainda deverão ser feitos para confirmar o efeito do infravermelho”, afirma Aquino Junior. Orientado pelo professor Vanderlei Salvador Bagnato (IFSC) em parceria com as pesquisadoras do IFSC Fernanda Mansano Carbinatto e Lilian Tan Moriyama, o estudo foi apoiado pelo Centro de Pesquisas em Óptica e Fotônica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Cepof/Fapesp), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela empresa MMOptics. Em janeiro deste ano, um artigo da pesquisa foi publicado no Journal of Obesity & Weight Loss Therapy.

Posição do Confef – Bagnato diz que, desde setembro de 2015, o Conselho Federal de Educação Física (Confef) tem conhecimento de que o laser infravermelho de baixa intensidade pode ser associado à atividade física para pessoas interessadas em perder peso. No entanto, na prática, poucos educadores físicos adotam esse procedimento.

O conselheiro federal do Confef, Sebastião Gobbi, diz que a instituição não tem posição oficial sobre o trabalho atual. “Trata-se de uma pesquisa recente, com resultados promissores e importantes. No entanto, é necessário que sejam realizados mais estudos”, explica Gobbi, que é professor aposentado da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), câmpus de Rio Claro.

Ele explica que as atribuições do Confef são fiscalizar e orientar a atuação profissional dos educadores físicos. “A aplicação de laser, que é um tipo de fotoestimulação, não está diretamente relacionada às competências do conselho. Reconhecemos que a associação da fotoestimulação com o exercício físico promove a saúde, reduz medidas corporais, melhora o desempenho do fígado e é um recurso tecnológico que pode ser utilizado pelo educador físico. No entanto, saliento que essa aplicação demanda capacitação do profissional, que deve comprová-la”, alerta.

Gobbi diz que esse treinamento é essencial, pois a fotoestimulação é contraindicada em casos de carcinoma (tumor maligno epitelial ou glandular) e problemas de pele. “Se a tecnologia for mal aplicada pode provocar diversos problemas, entre eles lesão no olho”, adverte.

Viviane Gomes

Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Assessoria de Comunicação do IFSC