Um estudo liderado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) analisou o genoma de 2.723 brasileiros, de diferentes regiões, e criou um mapeamento genético inédito no Brasil.
A pesquisa, publicada na revista Science , mostrou um retrato profundo e histórico da miscigenação no Brasil e encontrou mais de 8,7 milhões de variantes genéticas que nunca havia sido identificadas antes. O número é reflexo do fato de esse ser o primeiro mapeamento genômico de larga escala no Brasil, já que a produção de conhecimento na área está muito concentrada nos Estados Unidos, Europa e, mais recentemente, na Ásia.
“Você nunca vai identificar uma variante genética ligada a uma doença se essa variante não estar na população que você está estudando. Se eu estudar europeus, não vou identificar uma variante africana porque a África tem uma história evolutiva diferente A América tem uma história evolutiva diferente e isso tudo levou a acúmulo de diversidade”, declarou Tábita Hünemeier, professora do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biologia da USP e pesquisadora do Instituto de Biologia Evolutiva (CSIC/UPF) da Espanha.
“O primeiro ponto, para qualquer diagnóstico ou para qualquer estudo, é entender a população que estamos estudando.”
Um estudo dessas proporções no Brasil se faz importante por conta do volume da miscigenação no Brasil e da brutalidade com que se deu esse processo. Um dos apontamentos do estudo, por exemplo, mostra uma assimetria no acasalamento , indicando, através da herança genética, uma maior prevalência de relações entre homens com predominância genética europeia e mulheres de predominância genética africana e indígena.
“Isso impacta a visão que a gente tem da nossa própria história. Impacta porque a gente consegue resgatar alguns eventos que não têm dados bem detalhados. Eles corroboram questões históricas importantes”, defendeu a pesquisadora. “Tem um contingente enorme de pessoas descendentes que também tem direito de saber como ocorreu sua história .”
Impactos da genômica na saúde
Segundo Hünemeier, essa pesquisa é um primeiro grande passo para o desenvolvimento da medicina no Brasil. O ramo pode se beneficiar da análise genômica justamente porque os órgãos de saúde terão mais sedimento para direcionar políticas públicas e compreender melhor as particularidades da população brasileira e, em último caso, de cada indivíduo na medicina de precisão.
“O caminho é longo, mas agora a gente tem um caminho. Tínhamos estudos mostrando mais ou menos a diversidade genômica, m as nunca nesse nível de detalhe. A diversidade vai aumentando e a gente começa a ter a capacidade de pensar em alternativas de saúde pública , de entender a população, de entender os grupos”, disse.
“Essas 8 milhões de novas variantes podem, potencialmente, estar relacionadas com doenças. É hora de olhar essas mutações, ver o impacto disso na saúde.”
“A gente deve estabelecer um parâmetro aqui. Embora a população tenha algumas porcentagens europeias altas, em alguns lugares, o parâmetro europeu nunca vai responder todas as questões.”