Circulação de ônibus na cidade de São Paulo durante a pandemia
O estudo correlacionou informações do DataSUS com dados públicos da SPTrans sobre o carregamento dos ônibus no mesmo período
Um estudo feito entre a Labcidade (da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP) e o Instituto Pólis mostra que existe uma forte relação entre a circulação de pessoas que precisaram trabalhar durante a pandemia do novo coronavírus e as áreas da cidade de São Paulo com maior concentração de casos da doença. As informações são da Agência Fapesp.
O estudo correlacionou informações do DataSUS sobre as áreas com concentração de moradores que foram hospitalizados pela doença com dados públicos da SPTrans sobre o carregamento dos ônibus no mesmo período, além de dados da pesquisa Origem Destino, sobre o itinerário das viagens com motivo trabalho.
Para entender a movimentação, os pesquisadores utilizaram dados de GPS dos ônibus metropolitanos que circularam durante a pandemia entre o fim de maio e o início de junho.
Dessa forma, a análise detectou as linhas de ônibus que tiveram maior movimentação de passageiros durante a quarentena eram as dos bairros de Capão Redondo, Jardim Ângela, Brasilândia, Cachoeirinha, Sapopemba, Iguatemi, Cidade Tiradentes, Itaquera e Cidade Ademar.
Segundo a análise, outro ponto crítico da cidade é a região central, por onde passam quase todas as linhas de ônibus e que também é o principal destino ou origem principal de muitos trabalhadores.
"Com base neste estudo, pode-se dizer que, em síntese, quem está sendo mais atingido pela Covid-19 são as pessoas que tiveram que sair para trabalhar", diz o artigo, disponível no site do Instituto Pólis.
Para Raquel Rolnik, uma das coordenadoras do Labcidade, o poder público deveria tomar atitudes para diminuir os riscos de contaminação nesses ambientes.
“Nessas linhas com maior concentração de pessoas, seria importante fazer adaptações para proteger os passageiros. Não falo apenas de equipamentos de proteção individual como máscaras, do uso de álcool gel e da necessidade de aumentar o número de ônibus para atender essas linhas específicas. Seria importante também aumentar o espaço dos terminais e pontos de ônibus com tendas, demarcações e espaços provisórios para as pessoas poderem manter o distanciamento necessário”, afirma Rolnik à Agência Fapesp.
A pesquisadora ressalta, porém, que não é possível afirmar se o contágio ocorreu no percurso do transporte, no local de trabalho ou no local de moradia do trabalhador.