Cerca de 20% dos imigrantes que desembarcaram no Brasil nos últimos dez anos são coreanos, comunidade que já conta com aproximadamente 50 mil pessoas no país. Uma nova pesquisa realizada na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) aponta, no entanto, para a má qualidade de vida desses indivíduos.
O estudo, publicado na revista Cadernos de Saúde Pública, avaliou, a partir de um modelo de entrevista estruturada desenvolvida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a prevalência de transtornos psiquiátricos em 324 coreanos, homens e mulheres, residentes na capital paulista com idade média de 35 anos.
O principal resultado do trabalho é que 41,9% deles possuem algum tipo de distúrbio mental, taxa maior do que a existente entre os coreanos residentes na Coreia (32,6%) e também bem próxima da encontrada na população brasileira (45,9%).
Os diagnósticos mais frequentes encontrados na comunidade de coreanos analisada foram transtornos decorrentes da ingestão de substâncias como álcool, tabaco ou drogas (23%), transtornos de ansiedade (13%), estresse pós-traumático (9,6%) e transtornos de humor (8,6%).
- Ao avaliarmos o impacto das doenças mentais nesses imigrantes coreanos de primeira geração que estão sofrendo fortes impactos culturais no Brasil, percebemos que o grande problema não está na prevalência de doenças clássicas como esquizofrenia e transtornos bipolares, cujas taxas estiveram próximas às encontradas em diversos outros países - disse Itiro Shirakawa, professor titular do Departamento de Psiquiatria da Unifesp e um dos coordenadores do trabalho, à Agência FAPESP.
- Além do alto consumo de drogas, o que mais nos chamou a atenção foi a alta prevalência de transtornos como o estresse pós-traumático causado pela violência urbana, uma vez que os entrevistados, em sua maioria, são comerciantes na região central de São Paulo e muitos relataram ter sido vítimas de assalto e outras experiências traumáticas - explica.
De acordo com o levantamento, 35% dos participantes já sofreram ataques físicos ou foram assaltados, 23% já se envolveram em acidentes com risco de morte e 16% já foram ameaçados com armas ou foram sequestrados.
Segundo o estudo, a população do Brasil é, em grande parte, composta por imigrantes e seus descendentes. O Censo Demográfico de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta para a existência de aproximadamente 685 mil imigrantes no Brasil. A imigração coreana para o Brasil começou em 1963, sobretudo pelas fronteiras do Paraguai, Bolívia e Argentina.
O número de indivíduos que procuraram assistência médica também foi investigada no trabalho da Unifesp. Do total de participantes, 22,5% obtiveram serviço de medicina geral, 3,4% procuraram serviços de emergência e apenas 1,9% da amostra utilizou serviços de um profissional especializado em saúde mental.
O estudo foi realizado em São Paulo por abrigar a maior comunidade de imigrantes daquele país no Brasil, com 98% dos coreanos que residem em território nacional. O trabalho foi realizado ainda pelos pesquisadores Sam Kang, Denise Razzouk e Jair Jesus de Mari, todos do Departamento de Psiquiatria da Unifesp.
As informações são da Agência Fapesp