Estudo com apoio da FAPESP aponta genes associados à maciez, marmoreio e coloração da carne, abrindo caminho para avanços no melhoramento genético da principal raça bovina do país.
Uma pesquisa desenvolvida por cientistas do Instituto de Zootecnia (IZ), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, revelou marcadores moleculares associados a características importantes da qualidade da carne em bovinos da raça Nelore, como maciez, marmoreio e coloração. Os resultados apontam caminhos promissores para programas de melhoramento genético voltados não apenas para a produtividade, mas também para atributos valorizados pelo consumidor final.
A investigação, realizada com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), utilizou uma abordagem de genotipagem de alta densidade para analisar o DNA de 386 animais Nelore, oriundos de programas de seleção da própria instituição. Paralelamente, foram coletadas e analisadas amostras de carne desses animais, avaliando-se parâmetros como força de cisalhamento (indicador da maciez), quantidade de marmoreio (gordura entremeada) e coloração da carne.
Por meio da metodologia GWAS (sigla em inglês para “Genome-Wide Association Study”), que permite associar variações genéticas a características observáveis, os pesquisadores identificaram regiões específicas do genoma bovino ligadas a essas propriedades. Entre os genes destacados estão CAPN1 , que codifica a enzima calpaína — envolvida na quebra de proteínas musculares e, portanto, determinante para a maciez da carne —, e CAST , gene que atua como inibidor dessa enzima. Ambos são amplamente estudados na ciência da carne, mas sua associação em bovinos Nelore, raça zebuína adaptada às condições tropicais, reforça sua relevância prática para a pecuária brasileira.
Outro gene identificado, PDXDC1 , está relacionado ao metabolismo lipídico e foi associado ao grau de marmoreio, uma característica sensorial valorizada em mercados gourmet e internacionais. Além disso, foram mapeadas regiões cromossômicas ligadas à coloração da carne, atributo que influencia diretamente a percepção de frescor e qualidade pelo consumidor no ponto de venda.
Para os autores do estudo, a integração desses marcadores em programas de seleção genética pode acelerar o progresso genético para qualidade de carne na raça Nelore, que representa cerca de 80% do rebanho de corte no Brasil. Tradicionalmente, o foco da seleção zebuína tem sido o desempenho produtivo — como ganho de peso, eficiência alimentar e precocidade. Com a incorporação de dados genômicos, torna-se possível identificar, ainda na fase jovem do animal, aqueles que tendem a produzir carne mais macia, suculenta e visualmente atrativa.
Os pesquisadores reforçam, contudo, que o uso de marcadores moleculares deve ser combinado a estratégias integradas de manejo, nutrição e bem-estar animal. A genética é uma das ferramentas disponíveis para agregar valor à cadeia produtiva, mas sua eficácia depende de boas práticas ao longo de toda a produção.
O estudo contribui diretamente para a consolidação de uma pecuária mais sustentável, eficiente e conectada às exigências dos consumidores, tanto no Brasil quanto no exterior. Além de agregar valor ao produto final, a aplicação de biotecnologias como a seleção genômica também ajuda a reduzir desperdícios e a otimizar recursos, alinhando-se às metas de produção responsável e inovação no agronegócio.