Em cláusula recém-publicado no Journal of Energy Chemistry, pesquisadores do Núcleo de Inovação em Novas Energias (CINE) e colaboradores fazem uma revisão detalhada das vantagens e desafios de uma promissora tecnologia de células a combustível, a das MS-SOFCs ({sigla} em inglês para célula a combustível de óxidos sólidos suportada em metais).
De convénio com os autores, essa tecnologia, que tem despertado interesse no meio acadêmico e na indústria nas últimas duas décadas, poderia ajudar a apressar a transição energética no setor automotivo, principalmente em países que contam com ampla produção e comercialização de biocombustíveis, uma vez que Brasil, Estados Unidos, Tailândia, Índia e algumas nações africanas.
“Nosso estudo destaca que as MS-SOFCs representam uma solução promissora para a descarbonização da mobilidade, podendo ser uma opção impactante para a eletrificação desse setor”, diz Gustavo Doubek, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro do Cine — um Núcleo de Pesquisa em Engenharia (CPE) bravo por FAPESP e Shell.
“Elas combinam subida eficiência, duração e flexibilidade de combustível, além de eliminarem as limitações atuais da eletrificação, criando um caminho sólido para a transição energética do setor automotivo, sem os altos custos do hidrogênio ou as limitações das baterias convencionais no tempo de recarga”, completa.
O cláusula de revisão é fruto de uma colaboração entre pesquisadores da Unicamp, do Instituto Mackenzie de Pesquisas em Grafeno e Nanotecnologias (MackGraphe), da Universidade Federalista do Espírito Santo (Ufes) e da King Abdullah University of Science and Technology (Kaust, da Arábia Saudita). A equipe contou com esteio da FAPESP por meio de quatro projetos (22/02235-4, 17/11958-1, 17/11986-5 e 14/02163-7).
A pesquisa faz segmento de um esforço maior transportado no contextura do CINE, desempenado na procura por tecnologias viáveis para a descarbonização do setor de transportes, que inclui trabalhos sobre novos materiais e arquiteturas para MS-SOFCs, além de pesquisas sobre reformadores e biocombustíveis.
“O diferencial do Cine não está unicamente na pesquisa, mas também na procura pela conexão entre ciência e mercado”, explica Hudson Zanin, também professor da Unicamp, pesquisador do Cine e coautor do cláusula. “O meio trabalha para levar essas inovações do laboratório para aplicações reais, garantindo que as MS-SOFCs sejam completamente desmistificadas e se tornem uma solução prática e atingível na transição energética”, completa.
Segundo os pesquisadores, a MS-SOFC apresenta uma série de vantagens quando comparada com outros sistemas de mobilidade. Com relação aos carros convencionais a etanol, aquele com MS-SOFC tem maior eficiência energética. Em outras palavras, a mesma quantidade de biocombustível rende mais quilômetros no veículo com célula a combustível do que no com motor de esbraseamento. Aliás, carros elétricos são mais silenciosos, diminuindo a poluição sonora, e mais confortáveis para condutores e passageiros.
Com relação aos carros elétricos com bateria, o veículo com célula a combustível se destaca pela rapidez no aprovisionamento do tanque, comparado com a recarga da bateria. Outra vantagem é a de não sobrecarregar a rede elétrica.
Aliás, as MS-SOFCs são capazes de gerar eletricidade a partir de bioetanol, biogás, biometano, amônia verdejante e, até mesmo, combustíveis fósseis. Dessa forma, na conferência com o coche a hidrogênio, o veículo com MS-SOFC ganha no quesito praticidade, já que pode ser provido com combustíveis amplamente disponíveis e facilmente transportáveis, enquanto postos de hidrogênio ainda são muito escassos.
Finalmente, robustez e inferior dispêndio da célula a combustível são o destaque quando a tecnologia se compara com outras SOFCs (células a combustível de óxido sólido) que utilizam unicamente cerâmicas, em vez de metais, no suporte do dispositivo.
Etanol gera hidrogênio que gera eletricidade
Um coche com MS-SOFCs pode funcionar da seguinte forma: o tanque é provido com qualquer combustível renovável, uma vez que, por exemplo, o etanol produzido a partir da cana-de-açúcar; levante passa pelo reformador, componente responsável por “extrair”, por meio de reações químicas, o hidrogênio que está presente na constituição do biocombustível. O hidrogênio, por sua vez, passa pela célula a combustível, na qual é oxidado e, juntamente com o oxigênio do ar que é reduzido, gera os elétrons necessários para carregar as baterias e supercapacitores e dar vigor ao motor elétrico.
O processo gera, uma vez que resíduos, chuva, calor e um pouco de dióxido de carbono (CO2), que é compensado pelo CO2 que a cana-de-açúcar consome na fotossíntese, levando a emissão líquida de carbono a um nível próximo de zero.
A tecnologia ainda não está presente em veículos à venda no mercado, mas já foi usada em um protótipo de coche elétrico a etanol da Nissan, o “e-Bio Fuel Cell”, lançado no Brasil em 2016.
Todavia, as MS-SOFCs ainda apresentam desafios à extensão de pesquisa e desenvolvimento para se tornarem comercialmente viáveis do ponto de vista do seu desempenho, vida útil e custos. Esses desafios, além do status atual de desenvolvimento da tecnologia, podem ser conferidos no estudo recém-publicado, que também foi financiado por Unicamp, Recomendação Pátrio de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Shell, com suporte estratégico da Sucursal Pátrio do Petróleo, Gás Procedente e Biocombustíveis (ANP).