Crianças com um ano de vida, que entram em contato com Streptococcus mutans —— principal bactéria que causa cárie dental ——, possuem anticorpos contra proteína denominada de GbpB capaz de interferir na colonização dessa bactéria. Os anticorpos estão presentes na saliva e foram constatados em pesquisa desenvolvida em tese de doutorado de Ruchelle Dias Nogueira, da área de microbiologia e imunologia da FOP (Faculdade de Odontologia de Piracicaba) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e possibilita o desenvolvimento de uma vacina anticárie. O estudo inédito foi orientado pela professora Renata de Oliveira Mattos Graner.
De acordo com Renata, o estudo envolveu 160 crianças de todas as escolas municipais de educação infantil de Piracicaba, na faixa etária de cinco meses a 12 meses. "Elas foram acompanhadas a cada seis meses, perfazendo acompanhamento total de 18 meses", informou a orientadora da tese. Segundo ela, o trabalho consistiu na coleta de saliva para os ensaios laboratoriais. A análise foi realizada por Ruchelle.
Para o estudo, foram comparados dois grupos de crianças. No grupo, detectou-se que 13% das crianças —— 21 —— apresentavam infecção pela bactéria. Para a comparação, tirou-se outro grupo que não possuía a bactéria.
Renata informou que nas crianças infectadas precocemente não havia produção na saliva de anticorpo específico à proteína. Ela revelou que somente 38% apresentavam anticorpos. A doutoranda Ruchelle —— ela defende a tese sobre o assunto no próximo mês —— publicou parte dos resultados na Infection and Immunity, revista internacional na área de microbiologia e imunologia. A pesquisadora complementou o estudo com novas técnicas para rastreamento das partes da GbpB reconhecidas pelas salivas das crianças, com o grupo de pesquisa de The Forsyth Institute, de Boston, Estados Unidos, coordenado pelo professor Daniel Smith, descobridor da proteína. Os novos dados obtidos estão em fase de publicação e poderão esclarecer algumas dúvidas a respeito do perfil imunológico de crianças durante o início do contato com a bactéria S. mutans.
Renata afirmou que tem sido testadas vacinas anticáries tendo como modelos animais. Por isso, segundo ela, se sabe que induzindo a produção de anticorpos contra a proteína em animais é possível reduzir a colonização da bactéria e controlar o desenvolvimento da cárie.
O trabalho realizado por Ruchelle —— que também teve a participação da doutoranda Alessandra Castro Alves, que tem estudado as características genéticas dos microorganismos isolados das crianças e os mecanismos de transmissão —— teve apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e da Prefeitura de Piracicaba.