Paralelamente, Sergio Correa, pesquisador na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), tentava entender quais atividades econômicas impulsionam os desmatadores. "Há muitos anos a Amazônia era desmatada por madeiras nobres. Depois se somou a grilagem de terras públicas. Já na última década, vimos um aumento da pecuária e agricultura nessas terras griladas", explicou Correa à DW.
As planilhas comparativas mostraram que a exportação de madeira bruta saindo da Amazônia explodiu nos dois primeiros anos de Bolsonaro: alta de 693%. A área plantada de soja cresceu 68% e a de milho, 58%. O rebanho bovino acompanhou a estatística: foram 13% a mais de cabeças de boi no período, enquanto o resto do país registrava queda.
O Brasil pós-Bolsonaro
Britaldo Filho lembra que a destruição da Amazônia ameaça a produtividade do agronegócio, que depende da ciclagem da água feita pela floresta. O pesquisador ressalta que o tempo para mudar o cenário é curto, já que outros estudos, alguns deles assinados por Carlos Nobre, que também colaborou com a atual pesquisa da Nature, mostram que a região se aproxima do chamado ponto de não retorno. Segundo esse conceito, se 25% da floresta desaparecerem, ela perde a capacidade de se recuperar e se transforma numa savana.
"Mais importante que políticas públicas é o cenário político. Hoje, o atual governo demonstra vontade política de combater o desmatamento, o crime. Mas há um quadro de resistência, uma situação complexa na Amazônia que desafia a própria lei", comenta Filho.
Para Luciana Gatti, que liderou a pesquisa, os resultados do artigo mandam um recado claro ao Brasil pós-Bolsonaro. "É importante a gente manter o programa de combate e controle do desmatamento, ter áreas protegidas, demarcar terras indígenas, que são os maiores protetores da floresta. São políticas que vão ajudar a manter a Amazônia.