A cana-de-açúcar pode ser importante para o Brasil cumprir a sua parte no Acordo de Paris. Segundo estudo feito por USP, Unicamp e Esalq, em parceria com universidades estrangeiras, a cana tem o potencial de substituir até 13,7% do petróleo consumido no mundo até 2045. De quebra, ainda pode reduzir as emissões globais de dióxido de carbono (CO2) em até 5,6%.
Os dados foram estimados em um estudo internacional com participação brasileira, que teve resultados publicados na revista Nature Climate Change. O cenário otimista é possível caso haja a expansão do cultivo de cana-de-açúcar em território nacional para produzir etanol em áreas que não são de preservação ambiental ou destinadas à produção de alimentos.
Foi avaliado que a expansão da produção de etanol obtido da cana poderia contribuir para limitar o aumento médio da temperatura global a menos de 2 ºC. Isso ocorreria por meio da redução das emissões de CO2 pela queima de combustíveis fósseis, como a gasolina, conforme acordado pelas 196 nações que assinaram o Acordo Climático de Paris em dezembro de 2015.
Os pesquisadores utilizaram um software que simula o crescimento de plantas como a cana-de-açúcar por hora e com base em parâmetros como composição do solo, temperatura, incidência de chuva e de seca. O crescimento da cana-de-açúcar foi simulado em cenários diferentes no contexto das mudanças climáticas projetadas para 2040 e 2050 pelos cinco principais modelos de circulação global.
As análises indicaram que o cultivo de cana para produção de etanol poderia ser expandido para entre 37,5 milhões e 116 milhões de hectares. Dessa forma, o etanol obtido da cana poderia fornecer de 3,63 milhões a 12,77 milhões de barris de petróleo bruto por dia, em 2045, ao mesmo tempo em que se asseguraria a preservação de áreas de florestas e as destinadas para produção de alimentos.
Com isso, seria possível reduzir entre 3,8% e 13,7% o consumo de petróleo bruto e entre 1,5% e 5,6% as emissões líquidas globais de CO2 em 2045 em relação aos dados de 2014.
"Nossos resultados mostram que é possível conciliar as duas metas principais assumidas pelo Brasil no Acordo de Paris: a preservação de ambientes naturais, notadamente a Amazônia, e o aumento na produção de energia renovável", disse o professor da USP e um dos autores do artigo, Marcos Buckeridge, lembrando o acordo global firmado por 196 países para reduzir emissões de gases de efeito estufa (GEE) no contexto do desenvolvimento sustentável.
"O estudo mostra o valor da coragem do Brasil ao inventar o etanol como biocombustível e de implantá-lo como solução para todo o País. Esse potencial de expansão da cana não faria sentido se não tivéssemos a agricultura e a indústria funcionando e indica que devemos nos concentrar fortemente na ciência e tecnologia da cana nos próximos anos. Temos que terminar o trabalho que começamos, que é o etanol de segunda geração", disse o professor, indicando que a maior produção de etanol permitiria o Brasil atingir objetivos globais em relação às mudanças climáticas.
O estudo foi feito no âmbito de um projeto apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol.
Solução escalável
Os autores do estudo destacam que o etanol de cana-de-açúcar fornece uma solução escalável de curto prazo para reduzir as emissões de CO2 do setor de transporte global.
Segundo eles, a produção de etanol à base de cana no Brasil hoje é muito mais eficiente do que a produção de etanol de milho e gera apenas 14% das emissões de dióxido de carbono do petróleo. Além disso, as emissões de CO2 resultantes da mudança de uso do solo para cultivo da cana são compensadas em apenas dois a oito anos, ressaltaram.
"Ser escalável com rapidez é fundamental, pois é disso que precisamos para acelerar as respostas da sociedade às mudanças climáticas. Tudo indica que passaremos do aumento de 1,5 ºC já em 2030. Faltam poucos anos e o etanol brasileiro poderá ser de grande ajuda para o planeta", disse Buckeridge.
Fonte: Governo do Estado de S. Paulo