Marlon Tavoni/EPTV
Um estudo da Universidade de São Paulo (USP) apontou o vírus da raiva como causa da morte, em 2021, de um gambá (também conhecido como saruê) encontrado no Bosque dos Jequitibás de Campinas (SP).
O caso é o único registrado em Campinas, segundo a Unidade de Vigilância de Zoonoses do município. O bosque fica na Rua Coronel Quirino, no centro expandido da cidade.
A descoberta, publicada em revista científica, “acende um alerta sobre a presença do vírus, mortal para humanos, no ambiente urbano”, aponta a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp), que financiou o estudo.
Isso porque, segundo os pesquisadores da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP (FMVZ), os gambás estão bem adaptados ao meio urbano e também não deixam de interagir com áreas silvestres.
“Mesmo assim, [os gambás] são muito negligenciados. Não se sabe quase nada das doenças que eles podem ter e, eventualmente, transmitir para nós”, informou à Fapesp o professor José Luiz Catão Dias, orientador do estudo.
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?Transmitida por morcegos?
O estudo, que ocorre em parceria com o Instituto Adolfo Lutz e o Centro de Controle de Zoonoses de Campinas, sugere que o vírus da raiva foi transmitido ao saruê por morcegos e que o tipo da doença causou paralisia.
Além disso, a quantidade de vírus no corpo do animal indica que a doença estava se espalhando pelos órgãos.
?Vigilância contínua
Os pesquisadores lembram que a variante do vírus em cães não é mais detectada no estado de São Paulo por conta das sucessivas campanhas de vacinação de animais domésticos. Por isso, é importante monitorar outros animais.
A descoberta também desmitifica um estudo da década de 1960 que sugeriu que os gambás seriam resistentes à raiva.
“Este caso mostra que os gambás são suscetíveis à raiva e podem potencialmente adquirir de morcegos (…) A elucidação desta possibilidade – através da detecção do gambá morto – ocorreu através de vigilância integrada envolvendo equipes motivadas de campo e de laboratório”, aponta o estudo.
“As nossas descobertas destacam a necessidade de vigilância contínua da vida selvagem para esclarecer a dinâmica das doenças zoonóticas e prevenir a sua ocorrência em humanos e animais domésticos”, completa.
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Em 2014, Campinas registrou vírus da raiva em um gato.
?Testagem
O gambá infectado com raiva foi um dos 22 testados para diversas doenças em 2021. Além do Adolfo Lutz e do Centro de Controle de Zoonoses de Campinas, a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo também participou da iniciativa.
Dos 22 gambás, 15 foram testados por um estudo chamado histopatologia, que avalia como uma doença afeta um determinado conjunto de células.
10 morreram por lesões traumáticas;
4 por interações interespécies com cães;
1 por raiva
A pesquisa também analisou 930 morcegos, sendo que 30 deles testaram positivo para a raiva. Desse total:
17 era de espécies frugívoras do gênero Artibeus
13 eram insetívoros de três gêneros diferentes
✈Parcerias internacionais
Apesar da publicação em revista, os pesquisadores continuam analisando os animais enviados ao Centro de Patologia do Instituto Adolfo Lutz. A ideia é monitorar a raiva e outras doenças.
“Uma das ideias para continuar os estudos é firmar parcerias com instituições em outros países que realizem a vigilância de marsupiais como os gambás, por exemplo, a Austrália”, aponta a Fapesp.