Apesar de ser mais transmissível, ômicron registra menos casos graves e óbitos
Por Denis Dana
Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) identificaram que a eficácia das vacinas no combate à variante ômicron do coronavírus pode ser atribuída ao fato dela ter mutações estratégicas já observadas em cepas anteriores. O estudo, que teve o apoio da Fapesp, reforça o cenário epidemiológico vivido atualmente, onde o vírus, apesar de ser mais transmissível, tem gerado menos casos graves e menos óbitos, e o perfil da maioria dos pacientes internados são pessoas que não tomaram a vacina ou que estão com o esquema vacinal incompleto. A hipótese foi publicada numa carta ao editor do periódico científico Journal of Medical Virology.
“Das 35 mutações da ômicron existentes na proteína spike, que é utilizada pelo vírus para se conectar com o receptor da célula humana e iniciar o processo infeccioso, apenas uma não era conhecida. Vinte e cinco estão nas chamadas RBD [domínio de ligação ao receptor] (15) e RBM [motivo de ligação ao receptor] (10), regiões em que o Sars-CoV-2 utiliza para se ligar às células humanas e são, portanto, potenciais alvos para anticorpos neutralizantes”, descreve Ricardo Durães-Carvalho, pesquisador do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) - Campus São Paulo
Em dezembro, os pesquisadores analisaram dados de 146 genomas da variante coletados em Hong Kong, Botsuana, África do Sul, Canadá, Austrália, Itália, Bélgica, Israel, Áustria, Inglaterra e Alemanha. E agora, pretendem observar como o soro e o plasma sanguíneo de pacientes imunizados se comportam às diferentes variantes do novo coronavírus com as mutações encontradas.
Outro estudo realizado pelo grupo, ainda em revisão de pares, envolveu a análise de mais de 200 mil genomas do vírus Sars-CoV-2, assim como de outros tipos de coronavírus humanos, já tinha identificado que diferentes variantes compartilhavam algumas mutações.
O estudo apontou que, entre as variantes, existem regiões semelhantes, principalmente na proteína spike, que faz uma espécie de chave que se liga à célula humana. Se são parecidas e estão em posições estratégicas, como um mecanismo de chave (spike) e fechadura (receptor), vacinas que se mostraram eficazes na produção de anticorpos neutralizantes contra variantes anteriores também podem ser eficazes contra a variante ômicron, como de fato têm se mostrado.
Ainda que os estudos até aqui permitam identificar uma possível razão pela qual as vacinas seguem eficazes mesmo com novas variantes, os pesquisadores reforçam que ainda não existe certeza de que haverá o mesmo sucesso dos imunizantes numa eventual nova cepa, o que demanda vigilância e cuidados de todos quanto aos protocolos sanitários.
Os trabalhos foram conduzidos no âmbito do Projeto Jovem Pesquisador, intitulado Morcegos: vigilância epidemiológica, filodinâmica de alta resolução, busca e design de peptídeos de interesse biotecnológico em vírus emergentes e reemergentes, coordenado por Ricardo Durães-Carvalho. Também participaram os pesquisadores Danilo Rosa Nunes, Robert Andreata-Santos, Carla Torres Braconi, Luiz Mário Ramos Janini, bem como Louisa Ludwig-Begall (Universidade de Liège, Bélgica) e a Clarice Weis Arns (Unicamp).