Expectativa dos pesquisadores é que uso seja simplificado como um medidor de glicose. Ferramenta tem potencial para verificar taxa de proteína ligada ao aparecimento do Parkinson.
"Esse trabalho vem de uma longa data. A ideia era tentar fazer um sensor que fosse barato, fácil de produzir e que desse pra fazer, por exemplo, em escala", afirma o professor do Departamento de Química Inorgânica da Unicamp Juliano Bonacin, que foi o supervisor da pesquisa.
Segundo o pesquisador, a expectativa é que o sensor eletroquímico seja simples tanto quanto um medidor de glicose (conhecido como glicosímetro) - que auxilia diabéticos no controle da doença.
A pesquisa foi publicada na edição de 27 de janeiro da revista científica Sensors and Actuators B: Chemical. Os testes desenvolvidos nesta etapa utilizaram plasma sanguíneo in vitro.
Bonacin afirma que o próximo passo é iniciar testes em pessoas. Para isso, os pesquisadores do Instituto de Química da Unicamp buscam parcerias com universidades com cursos de medicina.
A doença de Parkinson afeta a capacidade do cérebro de controlar os movimentos, o que gera tremores, rigidez muscular, lentidão de movimentos e alterações de marcha e equilíbrio.
Como funciona o sensor
O equipamento pode medir a concentração da proteína PARK7/DJ-1 no sangue. A quantidade média dessa proteína em pacientes diagnosticados com Parkinson fica entre 9 microgramas por litro (μg/L) e 30 μg/L.
O sensor eletroquímico da Unicamp foi capaz de detectar a proteína em três níveis de concentração a partir do plasma sanguíneo: 30 μg/L, 40 μg/L e 100 μg/L.
A ferramenta foi construída basicamente com um filamento de ácido polilático e com grafeno como material condutor. Três eletrodos foram impressos em plástico com tecnologia 3D. É a partir disso que a taxa da proteína é mensurada.
O pesquisador reforça que a taxa de proteína é uma característica que deve ser associada a outras para que o diagnóstico, sempre de responsabilidade de médicos, seja fechado.
"Esse é um primeiro passo, mas a ideia de tentar desenvolver uma plataforma que pudesse analisar mais biomarcadores ao mesmo tempo", previu o pesquisador.
Facilidade de produção
Bonacin explica que o grupo de pesquisadores utilizou impressora 3D porque é uma tecnologia difundida. "Se eu consigo fazer isso no meu laboratório, poderia facilmente replicar para outros laboratórios pelo país afora. Então essa seria a nossa ideia, fazer uma desenvolver uma tecnologia que fosse muito fácil de produzir em escala".
"A ideia era tentar desenvolver uma plataforma que pudesse gerar exames na hora e que a gente pudesse achar alguns marcadores pra determinadas doenças. A gente pudesse, em um exame de rotina, pegar uma potencialidade de doença ou uma doença no estágio inicial", completou.
A pesquisa, que teve apoio da Fapesp em parte do processo, tem como autora a pós-doutoranda pelo Instituto de Química da Unicamp Cristiane Kalinke.
Doença de Parkinson tem cura?
A doença de Parkinson atinge 1 a 2% da população mundial acima dos 65 anos e aumenta com a idade, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, estima-se que 200 mil pessoas tenham Parkinson.
O Parkinson é uma doença neurológica, que afeta os movimentos da pessoa. Ocorre por causa da degeneração das células que produzem a dopamina, que conduz as correntes nervosas (neurotransmissores) ao corpo.
A falta ou diminuição da dopamina afeta os movimentos, provocando sintomas como tremores, rigidez muscular, desequilíbrio.
A doença não tem cura, mas os tratamentos disponíveis garantem o mínimo de qualidade de vida para os pacientes.
Entre as terapias disponíveis estão: remédios, cirurgia e atendimento multidisciplinar, que podem fornecer alívio e melhorar a qualidade de vida do paciente.