Estudos apontam que o Estado de São Paulo consome cerca de 80% da água extraída do aquífero, mas dados mais recentes, de 2010, indicam consumo ainda maior, de 95%
Novo estudo conduzido por pesquisadores da Unesp aponta para a super utilização das águas do Aquífero Guarani. A sustentabilidade de uma das maiores fontes de água potável do mundo pode ser colocada em risco por atividades humanas.
O estudo foi realizado pela universidade na região de Brotas, que é banhada pela sub-bacia do Alto Jacaré-Pepira . A localidade utiliza os recursos hídricos para o abastecimento urbano, agricultura e turismo intensivo.
A conclusão da pesquisa científica é que as chuvas não conseguem repor toda a água do Aquífero Guarani consumida.
O aquífero tem 1 milhão de km² e abrange área no Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina. Cerca de 2/3 estão em solo brasileiro, onde pode atingir espessuras de até 450 metros, em profundidades superiores a 1 km.
Estudos apontam que o Estado de São Paulo consome cerca de 80% da água extraída do aquífero, mas dados mais recentes, de 2010, indicam consumo ainda maior, de 95%. Em algumas regiões, onde há maior extração, pode ocorrer rebaixamento de mais de 100 metros.
De acordo com o pesquisador Didier Gastmans, do Centro de Estudos Ambientais da Unesp Rio Claro, cerca de 80% do volume de água das nascentes, rios, poços e até chuva têm origem no próprio aquífero . A origem foi rastreada através de isótopos de hidrogênio e oxigênio.
“Os isótopos estáveis de hidrogênio e oxigênio, constituintes da molécula da água, funcionam como ‘impressões digitais', que permitem identificar a origem da água. As amostras da água da chuva apresentam uma grande variação nos valores dos isótopos, refletindo a influência de diferentes processos atmosféricos sazonais. Já as amostras da água subterrânea mostram uma composição isotópica muito mais constante ao longo do ano. Algo bastante semelhante foi observado na água das nascentes, indicando que elas são predominantemente alimentadas por águas profundas”, explica Gastmans.
O estudo ainda indicou que o aquífero não é afetado diretamente pela sazonalidade, mas tem ocorrido uma redução das taxas de recarga, tanto pela diminuição dos volumes de chuva e ao aumento da evapotranspiração.
Em essência, com o Aquífero Guarani abastece cerca de 90 milhões de pessoas. Durante a estação seca, sua contribuição chega a suprir 90% da descarga das nascentes. A exploração excessiva, combinada com secas prolongadas no contexto da emergência climática, pode comprometer sua capacidade de sustentar o fluxo dos rios e nascentes, exacerbando crises hídricas como as que ocorreram entre 2014 e 2015 e, novamente, entre 2017 e 2021, no Estado de São Paulo.
“Compreender como o aquífero é recarregado e a dinâmica entre as águas pluviais e subterrâneas é o primeiro passo para garantir sua utilização de forma sustentável. Monitoramento em larga escala e gestão adequada são os passos subsequentes”, conclui Gastmans.
*Com Agência FAPESP