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UEMA - Universidade Estadual do Maranhão

Estudo da Uema aponta urgência no treinamento de profissionais de saúde para casos de acidentes com serpentes no Maranhão (12 notícias)

Publicado em 06 de outubro de 2023

Um estudo conduzido pelo Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade, Ambiente e Saúde (PPGBAS) da Universidade Estadual do Maranhão (Uema), Campus Caxias, identificou a necessidade de uma ação imediata para treinar os profissionais de saúde no reconhecimento de acidentes causados por serpentes de importância médica. O estudo também enfatizou a importância do preenchimento correto dos formulários de notificação obrigatória, que servem como base para o planejamento de saúde pública no estado do Maranhão.

Publicado recentemente na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, o estudo abordou o ofidismo, que compreende os acidentes provocados por serpentes de importância médica. Reconhecendo a complexidade desse problema, os pesquisadores adotaram uma abordagem integrada, considerando aspectos ecológicos, sociais e de saúde.

Este estudo pioneiro forneceu dados robustos para a vigilância epidemiológica dos acidentes causados por serpentes de importância médica no estado do Maranhão. Embora estudos semelhantes já tenham sido realizados em outros estados do Brasil e em nível global, os perfis observados no Maranhão assemelham-se aos encontrados em outras regiões.

Os pesquisadores obtiveram acesso a dados clínico-epidemiológicos por meio da análise das fichas de notificação compulsória fornecidas pela Secretaria de Saúde do Estado do Maranhão. Após a organização desses dados em planilhas, foram realizadas análises estatísticas descritivas.

Durante a década de 2009 a 2019, um total de 17.658 acidentes causados por serpentes de importância médica foram registrados no estado do Maranhão. Os municípios que notificaram o maior número de acidentes ofídicos foram Buriticupu, Arame e Grajaú. No entanto, quando considerada a incidência por 100 mil habitantes, os municípios de Arame, Marajá do Sena, Tufilândia, São João do Carú, Bom Jesus das Selvas e Buriticupu apresentaram os maiores valores, todos localizados na mesorregião oeste e central do Estado.

A maioria dos acidentes ocorreu em áreas rurais, afetando principalmente indivíduos com idades entre 20 e 39 anos, em sua maioria homens e trabalhadores agropecuários.

As serpentes do gênero Bothrops, conhecidas como jararacas, foram responsáveis pelo maior número de acidentes, seguidas das cascavéis do gênero Crotalus. Essas serpentes são amplamente distribuídas e podem ser encontradas em diferentes ambientes, como florestas, pastagens, áreas degradadas e zonas urbanas.

Os membros inferiores, em particular os pés e as pernas, foram as áreas do corpo humano mais afetadas nos acidentes com serpentes. Além disso, as vítimas com idades entre 51 e 60 anos apresentaram maior probabilidade de desenvolver casos graves.

Uma descoberta preocupante foi o grande número de fichas de notificação com preenchimento incompleto, o que pode indicar a falta de compreensão por parte dos profissionais de saúde sobre a importância do preenchimento adequado desses formulários.

Além disso, a análise das fichas compulsórias revelou que algumas manifestações clínicas não eram compatíveis com os acidentes ofídicos, levantando a possibilidade de que os profissionais de saúde nos postos de atendimento possam não estar adequadamente treinados para lidar com tais casos.

Identificar áreas com alta incidência de acidentes ofídicos é crucial para orientar estratégias de saúde focadas nas necessidades das populações vulneráveis. Isso contribui diretamente para as diretrizes estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e destaca a importância de treinar os profissionais de saúde para o reconhecimento e atendimento adequado a casos de acidentes com serpentes de importância médica.

O estudo foi liderado pela mestranda do PPGBAS/UEMA, Sâmia Araújo, com co-autoria da professora Joseneide Teixeira Câmara da Uema e orientação da Profa. Dra. Thaís Guedes, atualmente Jovem Pesquisadora FAPESP na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Este trabalho destaca a importância de ações imediatas para melhorar o atendimento e a notificação de acidentes ofídicos no Maranhão.