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Plantão News (MT)

Estudo confirma idade de um dos hominídeos mais antigos já encontrados (16 notícias)

Publicado em 21 de abril de 2021

Um grupo internacional de pesquisadores conseguiu determinar a idade de um fragmento de osso pertencente ao Homo erectus, hominídeo que viveu cerca de 2 milhões de anos atrás. Os pesquisadores de instituições dos Estados Unidos, África do Sul, Etiópia, Quênia, Alemanha, Holanda e Brasil encontraram ainda, na mesma área, dois outros fragmentos dessa espécie.

O estudo, publicado na revista Nature Communications, tem entre os autores Dan V. Palcu, que coordenou a parte geológica do trabalho e realiza estágio de pós-doutorado no Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP), sob supervisão do professor Luigi Jovane, com bolsa da FAPESP.

A bolsa é vinculada a projeto financiado pela Fundação, em convênio com o Natural Environment Research Council (NERC), do Reino Unido. O projeto é coordenado por Frederico Pereira Brandini, também professor do IO-USP.

“Foi um trabalho 100% de detetive. Imagine a investigação de um caso antigo num filme. Tivemos de verificar centenas de páginas de relatos anteriores e trabalhos publicados, reanalisando as evidências iniciais e buscando por novas pistas. Utilizamos ainda dados de satélite e imagens aéreas para encontrar onde os fósseis haviam sido descobertos, recriar o cenário e colocá-lo num contexto mais amplo para encontrar as pistas certas para determinar a idade dos fósseis”, explica Palcu ao American Museum of Natural History, nos Estados Unidos.

Os pesquisadores primeiro analisaram um fragmento de crânio encontrado em 1974, cuja datação de 1,9 milhão de anos tem sido contestada desde então. O fragmento só perde em antiguidade para um de 2 milhões de anos encontrado na África do Sul.

Além de confirmar a idade do fóssil no novo estudo, o grupo encontrou, a apenas 50 metros do local – que fica na parte leste do lago Turkana, no Quênia – mais dois pedaços de ossos pertencentes à espécie e talvez até do mesmo indivíduo. Os novos fósseis são de uma pélvis parcial e de um osso do pé, os primeiros fragmentos de partes do corpo abaixo da cabeça já encontrados desse hominídeo.

“Este fóssil de Homo erectus é um dos mais antigos do mundo e é mais uma prova de que a espécie provavelmente se originou na África. O aspecto mais importante da descoberta é que, como existem apenas alguns fragmentos de esqueleto do H. erectus primitivo, cada osso nos ajuda a entender essa espécie e sua capacidade de usar ferramentas e colonizar grande parte da África e da Eurásia”, diz Jovane, do IO-USP, à Agência FAPESP.

“O Homo erectus, até onde se sabe, é o primeiro hominídeo que tem um plano corporal mais parecido com o nosso e parecia estar no caminho de se tornar mais humano. Ele tinha membros inferiores maiores do que os superiores, um torso no formato mais como o nosso, uma capacidade craniana maior do que hominídeos mais antigos e é associado com a fabricação de ferramentas – é um hominídeo mais rápido e mais inteligente do que os do gênero Australopithecus e dos Homo mais antigos”, conta Ashley Hammond, curadora assistente do American Museum of Natural History e coordenadora do estudo.

Os pesquisadores coletaram ainda dentes fossilizados de outros vertebrados na área, principalmente mamíferos. Do esmalte dos dentes, extraíram informações dos isótopos presentes a fim de fazer um retrato do ambiente em que o H. erectus viveu.

O material mostrou que os animais se alimentavam sobretudo de grama e que a paisagem era relativamente árida, com vegetação aberta. O local era próximo a um corpo d’água estável, como mostraram esponjas de água doce preservadas em rochas.

O artigo New hominin remains and revised context from the earliest Homo erectus locality in East Turkana, Kenya pode ser lido em: www.nature.com/articles/s41467-021-22208-x.

Fapesp