São Paulo - Estudo publicado no Journal of Diabetes por pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Belo Horizonte, mostrou a relação direta entre diabetes e prejuízo da memória em pessoas com mais de 50 anos.
Os participantes foram divididos em três grupos: não diabéticos, cujos níveis de hemoglobina glicada estavam abaixo da taxa que caracteriza a doença; diabéticos diagnosticados, que já tinham recebido diagnóstico anteriormente por um profissional de saúde e relataram esse fato na entrevista; e diabéticos não diagnosticados, que afirmaram nunca terem recebido diagnóstico, mas cujo exame feito durante o estudo indicou diabetes.
Nos três grupos, os resultados não foram significativos para perda de fluência verbal e função executiva.
Memória
Nos testes de memória, porém, o grupo dos diabéticos mostrou uma ocorrência 49% maior de prejuízo do que o dos não diabéticos, como era esperado.
Estudos de outros grupos vêm mostrando, há anos, a associação entre as duas condições. Quando somados os diabéticos com os não diagnosticados, a relação diminuiu para 38%, ainda significativo.
“Dos quase 10 mil participantes, cerca de 4 mil fizeram o teste de hemoglobina glicada, que auxilia no diagnóstico do diabetes mellitus tipo 2, o mais comum. Nosso olhar foi voltado para uma parte dessa amostragem, a fim de entender a relação da doença com o declínio cognitivo”, explica Alexandre, que orienta pesquisa de mestrado de Natália Cochar-Soares, primeira autora do artigo.
Testes de memória
Além do exame que auxilia na detecção do diabetes, os participantes escolhidos fizeram ainda testes de memória, função executiva e linguagem, respondendo a uma série de questões.
Quando somados os diabéticos não diagnosticados com os não diabéticos, a associação com o prejuízo da memória foi de 46%.
Declínio gradual da memória
A hiperglicemia (excesso de glicose no sangue) causada pelo diabetes provoca alterações vasculares, que com o tempo geram microlesões no córtex cerebral. Além disso, pode formar placas nos vasos sanguíneos, comprometendo a circulação no cérebro e causando inflamações.
Por sua vez, a hipoglicemia (baixa taxa de glicose no sangue), que também é uma consequência do diabetes, pode ter como consequência a morte celular, devido à baixa quantidade de energia disponível para as células do sistema nervoso central.
Uma alteração específica de diabéticos é a diminuição do hipocampo, área do cérebro onde são formadas as memórias. Por fim, o diabetes diminui a chamada transmissão colinérgica, importante na formação da memória.
“Não encontramos associação com a perda de função executiva e a linguagem. Outros estudos mostram que, em geral, primeiro vem o declínio da memória e depois o da linguagem e da função executiva. Daí a importância de diagnosticar precocemente os indivíduos que têm diabetes. Dessa forma, eles não ficam expostos por muito tempo a altas glicemias e, consequentemente, consegue-se prevenir que tenham prejuízo da memória”, avalia Alexandre.
Fapesp
Para o estudo de diabetes e cognição, foram analisadas as informações de 1.944 participantes do ELSI-Brasil.
O trabalho foi coordenado por Tiago da Silva Alexandre, professor do Departamento de Gerontologia (DGero) da UFSCar, onde coordena o Laboratório de Epidemiologia e Envelhecimento (Lepen). O trabalho integra um projeto financiado pela FAPESP.
* Com informações da Fapesp