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Estudo climático na Amazônia melhorará previsão do tempo (1 notícias)

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Por Virgínia Silveira - de São José dos Campos
A mais ampla pesquisa sobre a contribuição da Amazônia nas mudanças climáticas globais, que está sendo realizada dentro do programa internacional Experimento de Grande Escada da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), já começou a apresentar seus primeiros resultados. Nos últimos dois meses um grupo de 150 pesquisadores estrangeiros e brasileiros trabalharam juntos para tentar entender o mecanismo de formação das chuvas tropicais da Amazônia, fazendo medidas sobre a quantidade de precipitação, ventos e pressão atmosférica na região de Ji-Paraná, em Rondônia. Os dados foram coletados com ajuda de instrumentos específicos, como pluviômetros e de um avião ER-2 Science da Nasa, equipado com radares meteorológicos e projetado para voar horas em altitudes acima de 22 mil metros. Com o radar existente no avião, os cientistas conseguiram, pela primeira vez, observar com detalhes as características de uma nuvem "cumulo-nimbus" ou nuvem de tempestade. "Medimos com clareza a constituição física dessa nuvem e o quanto ela armazenava de água líquida. O mais interessante, no entanto, foi observar que ela tinha um grande desenvolvimento vertical, com 18 km de altura e uma enorme quantidade de gelo", comentou o coordenador geral do LBA e chefe do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), Carlos Nobre. Na prática, segundo ele, conhecer melhor esse tipo de nuvem pode ajudar os meteorologistas a aprimorar os modelos de previsão do tempo. "Com essas informações poderemos representar esses processos que acontecem dentro das nuvens (o gelo, o vapor e a água) nos modelos climáticos dos trópicos", disse o pesquisados. A falta de conhecimento desses processos, segundo ele, é hoje o principal fator de limitação da previsão do tempo na região tropical. A importância da pesquisa sobre a formação das nuvens na Amazônia vai um pouco além. Os cientistas suspeitam que a condição propicia para o desenvolvimento desse tipo de nuvem tem a ver com a evaporação da floresta. Outra observação dos cientistas foi em relação ao comportamento da Amazônia na retirada de carbono da atmosfera. Percebemos que a floresta absorve o carbono em excesso na atmosfera", disse Nobre. Segundo ele, se isso for confirmado estaremos diante de um dado importante sobre o processo de formação do efeito estufa: "Em outras palavras, enquanto a queima do combustível fóssil joga carbono na atmosfera, as florestas estariam minimizando o impacto causado pela liberação do gás carbônico e contribuindo para a redução do efeito estufa." A Amazônia se constitui em uma grande reserva global de carbono. Mudanças no estoque de carbono, segundo estudo da LBA, ocorrem quando existem alterações de usos da terra ou de cobertura vegetal (queimada, remoção, plantio) mas também resultam de mudanças do equilíbrio entre fotossíntese e respiração decorrentes de variações nas condições físicas e químicas da floresta. Os cientistas, no entanto, ainda não sabem determinar tanto a extensão de diferentes usos da terra quanto os fluxos e estoques de carbono associados a esses usos. Uma das propostas do LBA, de acordo com Nobre, é saber de que modo mudanças do uso da terra afetarão o balanço liquido de carbono entre ecossistemas terrestres e atmosfera. Além disso, o LBA vai estudar mais a fundo o fato de ecossistemas de florestas nativas funcionarem como sorvedouros líquidos de carbono, como foi recentemente observado nas pesquisas de campo realizadas em Rondônia. O próximo passo do LBA será exatamente nessa linha. Nesta semana, cerca de 50 pesquisadores estarão instalando instrumentos e montando uma base em Ji-Paraná para iniciar o estudo da química da atmosfera e dos fluxos de gás carbônico, água e energia entre a floresta e a atmosfera. Futuramente essa experiência será feita em Caxiuanã (Pará), na Floresta Nacional do Tapajós, em Santarém e em Manaus Paralelamente, cerca de 120 cientistas iniciarão uma outra etapa do LBA. Serão feitos estudos ecológicos relativos à mudança da cobertura vegetal da Amazônia para pastes, agricultura e extração seletivo de madeira. "Queremos entender como os processos naturais suo alterados e de que forma isso afeta o estoque de carbono e nutrientes da floresta" comentou a responsável pelas ações de apoio ao desenvolvimento de LBA, Iara Weissberg, do CPTEC. As pesquisas de campo do projeto LBA se estenderão até 2003 e os investimentos previstos no projeto são de US$ 100 milhões. O LBA é liderado pelo Brasil, através do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e conta com a parceria da Administração Nacional de Espaço e Aeronáutica (Nasa) dos países amazônicos, de cinco países europeus e Instituto de Pesquisa da Amazônia (Inpa), entre outros.