Um estudo brasileiro, publicado na revista Nutritional Neuroscience , trouxe à tona uma nova perspectiva sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). A pesquisa analisou como os genes relacionados à metabolização da vitamina D , um hormônio essencial para a saúde óssea e imunológica, podem impactar os sintomas desse transtorno , com foco especial nos subtipos mais comuns: o TDAH com predomínio de desatenção, o TDAH hiperativo-impulsivo e a combinação dos dois.
Os pesquisadores calcularam algo chamado de “ escore poligênico ” para os níveis de vitamina D, que é uma medida que considera a soma das variações genéticas que influenciam a quantidade do hormônio no sangue Essa abordagem ajuda os pesquisadores a identificar se alguma pessoa tem uma tendência genética para níveis mais altos ou mais baixos de vitamina D.
A partir daí, os pesquisadores concluíram que pessoas com menores escores poligênicos, ou seja, com predisposição genética para ter menos vitamina D, apresentaram mais sintomas de desatenção. Isso sugere que, embora o hormônio não cause diretamente a condição, a forma como nossos genes influenciam seus níveis pode estar associada à gravidade dos sintomas, especialmente no caso do TDAH com predomínio de desatenção.
“Os níveis de vitamina D podem estar ligados aos sintomas do transtorno através de fatores genéticos comuns” , afirma Cibele Edom Bandeira, doutora em Genética e Biologia Molecular pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e autora da pesquisa.
Resultados variam conforme o tipo de TDAH
Os pesquisadores também constaram que a relação com a vitamina D varia conforme a variação do transtorno. Para os indivíduos com TDAH predominantemente desatento, níveis mais altos de vitamina D estão associados a uma diminuição dos sintomas de desatenção . Em contraste, para aqueles com TDAH do tipo hiperativo-impulsivo, níveis mais elevados do hormônio não mostraram a mesma correlação positiva com a redução da
“Para as pessoas do tipo hiperativas-impulsivas, maiores escores de vitamina D, significavam uma exacerbação dos sintomas”, explica Cibele. “Quando tentávamos analisar as pessoas com TDAH como um todo, sem separá-las pelo subtipo da condição, não encontrávamos nenhuma correlação com a vitamina D. Então, são dados muito interessantes que podem nos ajudar a entender melhor as minúcias desse transtorno”, conclui.
O que isso significa para o tratamento do TDAH?
Os resultados sugerem que a vitamina D pode ter um papel importante no manejo dos sintomas do TDAH , mas é importante notar que não é um tratamento isolado. A pesquisa indica que ela pode atuar como um complemento a tratamentos convencionais , como medicamentos e tratamentos psicológicos . Além disso, é crucial considerar que a vitamina D não deve ser usada como a única abordagem para o tratamento do TDAH, mas sim como parte de um plano de tratamento mais abrangente.
De qualquer forma, os achados do estudo ajudam na montagem do quebra-cabeça que desvenda TDAH e abrem portas para novas pesquisas e discussões sobre como diferentes aspectos biológicos podem influenciar os variados sintomas da condição.
Os trabalhos citados neste artigo tiveram apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
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