Em estudo recente publicado na revista Science , pesquisadores do Instituto Butantan fizeram descobertas sobre filhotes de cobras-cegas, também conhecidas como cecílias — apesar do nome, as cecílias não são cobras e tampouco répteis, mas sim anfíbios. A espécie estudada pertence à ordem Gymnophiona
De acordo com a pesquisa, seus filhotes são alimentados com um tipo de "leite materno", que é produzido na cloaca da mãe. Além do mais, eles produzem sons, como se fosse um 'choro', pedindo pelo alimento; algo muito parecido com que fazem os mamíferos.
Além disso, assim como as cecílias vivíparas, as ovíparas também desenvolvem glândulas em sua trompa de Falópio; de onde sai uma substância viscosa e transparente, expelida pela cloaca, que serve de alimentação para seus filhos.
Embora pareça, a amamentação não é algo exclusivo dos mamíferos, com invertebrados, aranhas e até peixes e aves usando maneiras diferentes para "amamentar" seus filhotes. Mas, até então, a técnica era desconhecida no reino dos anfíbios ovíparos, o que torna o estudo ainda mais importante.
A secreção 'expelida' pela mãe cecília é rica em carboidratos e ácidos graxos, o que faz que sua composição seja semelhante à encontrada no leite de mamíferos, conforme comprovou análise bioquímica da substância. A 'amamentação' é feita diversas vezes ao dia, com seus filhotes as ingerindo ferozmente.
O choro
Como as cecílias são animais de olhos pequenos e praticamente cegas que vivem nos subsolo, os filhotes acharam um jeito muito interessante de pedir por alimento: emitindo sons, como se fosse uma espécie de 'choro', em simultâneo com estímulos táteis.
O estudo dos pesquisadores do Instituto Butantan foi focado nas cecílias da espécie Siphonops annulatus , que comumente são encontradas na região sul da América do Sul.
"Nós já sabíamos que filhotes de cecílias se alimentavam da pele das mães, a qual é basicamente proteína. Mas essa troca de pele ocorre somente uma ou duas vezes por semana. O que nos levou a nos aprofundarmos, pois como os filhotes cresciam fortes e robustos, sendo que só comiam uma ou duas vezes por semana?", disse o pesquisador Carlos Jared , que esteve envolvido com a pesquisa, segundo repercutido pelo UOL.
Analisando quase 300 horas de gravações em vídeo, os pesquisadores puderam estudar as cecílias em diversas fases, como durante a gestação, nascimento e até mesmo observar detalhes dos cuidados parentais.