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Estudo avalia uso da tomografia na detecção de doença coronariana em diabéticos

Publicado em 17 março 2014

Ao avaliar por meio do exame de tomografia computadorizada um grupo de 90 diabéticos sem histórico e sem sintoma de doença cardiovascular, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) verificaram que 42,2% (38) dos pacientes apresentavam algum nível de obstrução nas artérias coronarianas. Em 15,5% (14) dos casos, a doença arterial coronariana foi considerada significativa, ou seja, já havia vasos com mais de 50% de obstrução.

Comparando os exames de diabéticos com a glicemia sob controle com os de pacientes com diabetes descompensada, os cientistas observaram que neste segundo grupo foi mais frequente a presença de placas ateromatosas consideradas “vulneráveis” (não calcificadas e que causam remodelamento local no vaso), cuja ruptura seria responsável por cerca de dois terços dos infartos.

O projeto “Diagnóstico de doença cardiovascular assintomática em portadores de Diabetes tipo 2” foi coordenado pelo médico Antonio Carlos Lerario, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, e contou com apoio da FAPESP.

“Nosso objetivo era avaliar se esse método de diagnóstico por imagem não invasivo seria tão eficaz quanto o método padrão para detectar precocemente a doença arterial coronariana em pacientes diabéticos. Nesse grupo, o infarto agudo do miocárdio e o acidente vascular cerebral são a principal causa de morte. Além disso, a incidência desses problemas é maior que na população em geral”, afirmou Lerario.

Segundo o pesquisador, estudos anteriores já haviam mostrado que a diabetes favorece o surgimento de fatores de risco cardiovascular, como dislipidemia e hipertensão. Além disso, a doença está relacionada a maior inflamação e maior estresse oxidativo nas células do endotélio, o que causa uma espécie de envelhecimento precoce dos vasos sanguíneos.

De acordo com o pesquisador, atualmente a técnica mais comum para avaliação de doença coronariana é o cateterismo, que consiste em inserir um tubo longo, fino e flexível por um vaso do braço, da coxa ou do pescoço, até o coração. O exame é invasivo, requer anestesia e aplicação de contraste para que as placas ateromatosas sejam visualizadas.

Já a angiografia por tomografia computadorizada permite obter de forma não invasiva imagens tridimensionais detalhadas do coração e dos vasos sanguíneos por meio de raios X e uma aparelhagem complexa acionada por computadores de alta tecnologia. Entre as desvantagens estão o alto custo e a demora do procedimento.

“A maioria dos métodos de diagnóstico para doença arterial coronariana não consegue avaliar a presença de placas vulneráveis. Com a tomografia seria possível detectar os processos ateroscleróticos, mensurar o grau de estenose (estreitamento do vaso) e estimar a quantidade de cálcio nas placas”, explicou Lerario.

Outra possibilidade seria realizar um ultrassom intravascular – um tipo de cateterismo em que se coloca um equipamento ultrassom na ponta do cateter. Mas, segundo Lerario, esse método é ainda mais caro que a tomografia e exige muita habilidade do examinador.

Avaliação

O estudo foi feito com diabéticos de ambos os sexos que já faziam acompanhamento ambulatorial do HC-USP – sendo que apenas metade estava com a glicemia sob controle. A idade variou entre 40 e 65 anos, mas todos haviam sido diagnosticados diabéticos há menos de dez anos.

Todos passaram por um exame clínico e por um teste de esforço com eletrocardiograma que não revelaram problemas cardiovasculares. Já a angiografia por tomografia computadorizada mostrou que 42,2% dos 90 pacientes tinham algum grau de obstrução. Quando se considerou apenas o grupo com a glicemia descompensada, o índice subiu para 60%.

Já o índice de pacientes com obstrução significativa foi de 15,5% quando considerado todo o conjunto de diabéticos e saltou para 24,4% quando considerados apenas aqueles com a glicemia descompensada. Também nesse grupo foi maior o número de segmentos coronarianos afetados e de placas não calcificadas consideradas de maior risco.

Na avaliação de Lerario, a pesquisa não apresenta evidências robustas o suficiente para indicar a tomografia computadorizada como exame diagnóstico de rotina nesses casos – para isso seriam necessários novos estudos com casuística maior.

No entanto, afirmou o pesquisador, os resultados comprovam que a tomografia consegue, de fato, diagnosticar a doença arterial coronariana de forma tão sensível quanto o cateterismo, porém menos invasiva. “Além disso, os resultados mostram que uma placa pequena pode, às vezes, ser mais perigosa do que uma grande. Creio que a principal mensagem é que não apenas o nível de obstrução deve ser levado em conta na avaliação do risco, mas também o tipo de placa”, afirmou Lerario.

Fonte: Agência FAPESP