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A Gazeta (ES)

Estudo avalia efeito da cocaína (1 notícias)

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O uso abusivo da cocaína pode causar problemas em regiões frontais do cérebro que comandam o comportamento, o raciocínio, a tomada de decisões, as emoções e a personalidade. A conclusão é de um estudo realizado pelo Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas (GREA) do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), financiado pela FAPESP. Isto poderia explicar a razão - de os dependentes químicos continuarem a fazer uso da droga mesmo diante de conseqüências negativas ligadas ao consumo, como o eventual envolvimento em atividades ilícitas (furtos, roubos e até homicídios).
Conduzida pelo neuropsicólogo Paulo Cunha e pelo psiquiatra Sérgio Nicastri, a pesquisa "Alterações Neuropsicológicas em Dependentes de Cocaína" avaliou 62 indivíduos, sendo 30 dependentes de cocaína e 32 sem alterações psiquiátricas ou histórico de problemas no desenvolvimento neuropsicomotor. Foram utilizadas técnicas modernas de exame do funcionamento cerebral (SPECT - Single Photon Emission Tomography) e instrumentos novos de avaliação neuropsicológica. Os dependentes de cocaína estavam em tratamento em regime de internação, o que permitiu excluir a interferência do uso recente da droga na avaliação.
"Pode-se afirmar que os indivíduos que costumavam fazer uso abusivo de cocaína demonstraram, com grau de significância estatística, problemas duradouros em regiões frontais do cérebro, que controlam o comportamento, raciocínio, tomada de decisões, emoções e personalidade", destacou o neuropsicólogo Paulo Cunha. Segundo ele, é muito comum o envolvimento destes pacientes em atividades ilícitas e atividades que coloquem sua vida em risco, como sexo desprotegido, brigas, confusões, compartilhamento de seringas e atitudes intempestivas no trabalho, trânsito e na vida familiar.
O psiquiatra do GREA e coordena dor do Programa de Álcool e Drogas do Hospital Albert Einstein, Sergio Nicastri que "o conhecimento a respeito de particularidades do funcionamento mental dos pacientes dependentes químicos (que sugerem déficits de funções relacionadas aos lobos frontais do cérebro) poderá ajudar os profissionais, tanto na seleção de técnicas de tratamento mais eficazes, como no desenvolvimento de novas medicações que se liguem a receptores cerebrais específicos nas regiões frontais e que auxiliem o paciente na retomada mais breve do funcionamento normal do cérebro".