Notícia

Correio da Paraíba

Estudo associa inclusão digital a notas baixas

Publicado em 14 fevereiro 2008

São Paulo - As políticas de inclusão digital, que estimulam o uso de computadores nas escolas, podem estar gravemente equivocadas, de acordo com um estudo realizado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), divulgado ontem mostra que o uso de computadores para fazer tarefas escolares está relacionado ao pior desempenho dos alunos - principalmente entre os mais pobres e mais jovens.

O trabalho, publicado na revista Educação e Sociedade, foi coordenado por Jacques Wainer, do Instituto de Computação, e por Tom Dwyer, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. A equipe utilizou dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2004.

"Existe hoje uma posição dominante favorável ao uso do computador nas escolas, como se ele estivesse associado a uma melhoria uniforme no desempenho do aluno. Mas constatamos que ocorre o contrário: entre alunos da mesma classe social os que sempre usam têm pior desempenho", disse Wainer à Fapesp.

Do ponto de vista de políticas públicas, o estudo aponta que é preciso entender melhor o fenômeno do impacto dos computadores nas notas dos alunos antes de defender a inclusão digital baseada na distribuição de tais equipamentos.

"Em geral quem tem computador em casa são os alunos mais ricos, que normalmente têm melhor desempenho. Para eliminar esse viés resolvemos considerar a classe social e focar no uso para tarefas escolares", explicou.

Um laptop por aluno

"Idéias como a de dar um laptop para cada criança parecem péssima opção, principalmente considerando que ele piora o desempenho escolar entre as crianças mais pobres. Corremos o risco de transformar a inclusão digital em uma exclusão educacional", afirmou Wainer.

Segundo ele, a pesquisa foi derivada do Mapa da Exclusão Digital, publicado pela Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro em 2003. O documento apontava um melhor desempenho no Saeb entre os estudantes que tinham computador em casa.

Os resultados mostraram que, na 4ª série, os estudantes de classe alta que usaram raramente o computador para as tarefas tiveram, em média, 15 pontos a menos do que os que nunca o fizeram - tanto em português quanto em matemática.